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Exposição especial da HQ Revolta! durante a Gibicon. |
Autor André Caliman falou com a equipe do Capital Cultura sobre suas
influências e quadrinhos politizados durante a segunda edição da Gibicon
Por Giovanna
Tortato
Quando
colava as primeiras páginas de sua HQ nos muros de Curitiba, como
forma de intervenção urbana, André Caliman não imaginava a
repercussão que Revolta! tomaria quando pronta. Agora, mais de
um ano depois e seis meses após o lançamento da obra completa em
fevereiro deste ano com apoio de financiamento coletivo pelo site
Catarse, a HQ teve papel de destaque na segunda edição da Gibicon –
Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba. Para a obra,
foram dedicadas uma exposição, uma apresentação do projeto Cena
HQ e uma participação em mesas de debate. Além disso, o autor
também esteve presente em todos os dias do evento autografando e
conversando com os fãs e novos admiradores. Em entrevista ao Capital
Cultura, Caliman contou um pouco mais dessa experiência.
Os
seus quadrinhos estão em exibição em vários formatos nessa
Gibicon, o que você achou da adaptação que o Cena HQ fez?
Como
ele já foi encenado uma vez no Teatro da Caixa, eu havia assistido e
achado muito bom. Fiquei muito feliz de terem decidido encenar aqui
porque acho que pegou um novo público, uma galera que estava por
aqui e ainda não conhecia, além de ser um pessoal que curte
quadrinhos que é o que predomina aqui no evento. Tô muito feliz
também com a exposição, porque a história tem tudo a ver com a
cidade. Eu moro aqui, a história se passa aqui, então, colocar
essas páginas, que antes eu tinha colado nas ruas da cidade - que
foi o que eu fiz enquanto eu publicava no blog - e ver elas expostas
aqui dentro do museu é muito legal.
O
seu quadrinho é o “Revolta!” está sendo muito discutido desde
os eventos de junho. Você foi ou está sendo muito procurado para
falar sobre o tema devido a ter feito um manifesto artístico sobre o
tema?
Quando
surgiram as manifestações e eu ainda estava fazendo a HQ. Na época
rolou uma badalação, umas perguntas nesse sentido. Porque com
certeza, ali chegou um momento em que eu estava escrevendo sobre
isso, o quadrinho estava refletindo muito o que estava acontecendo.
Antes mesmo das manifestações, a HQ já lidava com o sentimento que
estava rolando e, assim que ocorreram as manifestações, eu também
coloquei muito disso na história. Então, eu acho que ler os
quadrinhos é uma boa forma também de entender o aspecto daquele
momento real.
O
seu quadrinho é uma HQ política, ainda que não de pregação ou
ideologia. Tem outros desse tipo ou deveria haver mais? Há essa
tendência no mundo dos quadrinhos?
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Caliman autografa sua HQ para o público. |
Existe
uma história, uma tradição, do quadrinho como um veículo que
representa e interpreta alguns fenômenos sociais, alguns dos
fenômenos políticos dos países de onde esses quadrinhos são. A
Argentina mesmo, que aqui no evento temos convidados como o Salvador
Sanz e o Eduardo Risso, tem uma história interessante com quadrinhos
que falam sobre a ditadura Argentina. Quadrinhos como El Eternauta,
por exemplo,e também quadrinhos muito famosos que contam a história
da vida do Che Guevara. Mas no Brasil também teve! O Brasil talvez
até mais por meio dos quadrinhos de humor, o quadrinho de tiras. Mas
se você pegar quadrinhos europeus, quadrinhos dos EUA, sempre existe
algum desse tipo. O V de Vingança tem uma relação clara com
o governo da Margareth Thatcher dos anos 1980. Então a HQ tem uma
facilidade em tratar desses temas, porque também existe uma
liberdade ali, você pode tratar desses temas ao mesmo tempo em que
você tá causando uma reflexão, que você tá divertindo, que você
tá entretendo. Acho quadrinhos um veículo perfeito pra tratar de
assuntos sérios.
E
precisamos de mais obras com esse teor?
Eu acho que sim, não que nunca tenha tido, sempre teve. Mas no
momento tá faltando, poderia ter mais. Como a gente tem muitos
títulos, existe muita possibilidade de se auto publicar, percebe-se
que os autores acabam somente fazendo histórias muito intimistas,
também muito interessantes e, às vezes, acabam ficando muito só
nos seus próprios problemas e angústias. Os quadrinhos tem que se
abrir, os autores tem que começar a enxergar mais o que tá
acontecendo porque o quadrinho é um bom veículo de comunicação.
Pra
encerrar: essa é a segunda edição da Gibicon. O que você achou da
estrutura e do evento? Deu certo? Deve seguir em diante nesse formato
e só aumentar em proporção?
Esse
formato é novo, porque tivemos a número 0 e a número 1, que foram
eventos que o intuito era acontecer na cidade inteira, em vários
locais, então o pessoal ficava transitando pela cidade. Essa é a
primeira edição que a gente colocou em um lugar só, o que eu acho
bem melhor. O pessoal não precisa se deslocar, têm mais facilidade
de ir de um evento pro outro, palestras, debates, porque tudo
acontece em seguida, acabou um já tem outro começando. E ao mesmo
tempo eu acho que juntar as pessoas, deixa-las mais próximas, mesmo
que fique um pouco apertado, é legal porque faz com que as pessoas
conversem mais e troquem mais informação.
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