quarta-feira, 25 de junho de 2014

Hugo Mengarelli: argentino bem brasileiro

Mengarelli é de poucas palavras, mas elas são suficientes para ter a certeza de que ele é mais brasileiro do que argentino


Por Noele Dornelles (texto e foto)


Sotaque. Essa é a primeira coisa que notamos em Hugo Mengarelli. Há mais de 35 anos morando no Brasil, já domina a língua portuguesa há um bom tempo, mas não quer perder  as raízes argentinas. “Quando vim pra cá, tinha dificuldade, agora eu tento falar com pouco sotaque. Às vezes dá certo”.

Cinema é uma das paixões de Hugo. O seu primeiro filme, ”Roça”, foi lançado em 1984, mas engana-se quem acha que ele foi produzido em 1984. “A gente começou a filmar Roça em 1981, mas tivemos muita dificuldade na produção”. A falta de recursos alongou a estreia do filme, ocorrida na Cinemateca de Curitiba. Um desses momentos marcantes para Hugo foi quando a polícia impediu a equipe de gravar uma cena, “Todo mundo estava pronto, íamos gravar na Rua das Flores, aí de repente quando olhamos lá estava a polícia falando que não podíamos utilizar o espaço”, conta Mengarelli.

Ele pegava pesado com a gente, posso falar: aprendi tudo que sei com ele”. É assim que o ex- aluno e hoje diretor de cinema Cesar Pereira define o ex-professor e colega de profissão. “Hoje eu valorizo tudo que ele me disse e aplico nos meus filmes”.

Às vezes é complicado conviver com o diretor, cineasta e o professor Mengarelli. Essa é umas das constatações feitas por mim ao acompanhar um dia com ele. O filho, Rodrigo Mengarelli, confirma o gênio forte e a tendência a transferir o comportamento profissional para a vida cotidiana. Hugo, às vezes, torna-se autoritário e transpõe seu comportamento profissional para a convivência na família. “Às vezes ele esquece que é pai e fala comigo como diretor. É engraçado quando ele nota isso”.

Para Hugo, teatro é uma profissão complicada nos dias de hoje. “Viver de arte é complicado. Tem atores da companhia que tem outros trabalhos, outras profissões, é assim em vários lugares”. Perguntado sobre um artista do teatro com o qual tem orgulho de ter trabalhado, cita Lala Schneider, a dama do teatro paranaense.

PalavrAção, a companhia, surgiu em 1995, quando um reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) quis criar um grupo para as apresentações. Mengarelli foi escolhido para a direção. “A ideia sempre foi de criar atores, mostrar o nosso trabalho”. Muitos atores passaram pela companhia. Pâmela Machado atuou em várias peças com o diretor.

Antes de me despedir de Mengarelli, perguntei se irá torcer pela Argentina na Copa. “Claro que vou, afinal não é sempre que podemos ganhar uma Copa na casa do maior rival”. Assim terminei meu encontro com Hugo. Ao me despedir dele, ele me diz “merda pra você”, e eu retribuo: “merda pra você”.

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