sexta-feira, 24 de julho de 2015

Frios debates de inverno



Cada obra de Aly Muritiba é como uma geada de julho em Curitiba. Elas te atingem sem aviso prévio, te fazendo parar tudo que está fazendo para observá-las e tentar absolvê-las sem tomar um choque de realidade no seu subconsciente.

Por Camile Kogus

Num primeiro momento, o Sénic azul escuro parece mais objeto para auxiliar nas gravações do longa “O Homem que Matou Minha Amada Morta” de mais uma produção do cineasta Aly Muritba. No entanto, poucos sabem que o automóvel simboliza, de modo subjetivo, a trajetória do profissional desde o início da sua carreira até aqui. O carro - que a princípio deveria ser preto para as gravações, mas sem outra alternativa foi usado mesmo sendo azul - demonstra as mudanças e adaptações que ocorreram na vida e carreira de Aly até ele alcançar o cargo de um dos nomes mais importantes do cinema curitibano. 

Nascido na cidade de Mairi, interior da Bahia, em 20 de fevereiro de 1979, o cineasta veio parar em Curitiba com a intenção de cursar Comunicação e Cultura pela UTFPR e Cinema e TV na Faculdade de Artes do Paraná. Desde o início de sua carreira, ele produziu dezenas de obras - entre elas curtas e longas, ficções e não ficções – que parecem se entrelaçar com os fases de questionamentos levantados por Aly.

Faça um teste de sensibilidade. Veja o curta “Convergências” (2008) e tente não se deixar levar pelos questionamentos internos do seu cérebro. O debate sobre o vazio existencial e a monotonia da vida cotidiana fica tão evidente nas cenas entre o casal que busca o prazer, mesmo que passageiro, que parece que estamos sentados junto a Aly em uma mesa do conhecido Bar do Alemão, filosofando sobre as dúvidas e crises que nos atingem e nos atordoam como as correntes de vento gélidas típicas do inverno curitibano. Caso isso não baste, te aconselho então a conferir apenas alguns minutos do curta Pátio (2013), e ver, através dos olhos de Muritiba, uma realidade que grande parte da população não conhece, e ter as mesma sensações que ele teve ao gravar a obra.

A vida do cineasta é marcada pelas mais diversas experiências, e como elas interferiram na sua carreira. Os sete anos que trabalhou como agente penitenciário lhe proporcionaram não apenas uma visão do sistema de “dentro para fora”, mas também uma vontade de revelar o outras produções não mostravam sobre o tema. Dessa quase uma década servindo ao Estado e a Justiça, nasceu a Trilogia Cárcere, a qual é composta pelos filmes “A Fábrica”, “Pátio” e “A gente”. A série revela três lados de uma questão que Aly conviveu por anos, o Sistema Carcerário Brasileiro. 

Na trajetória do cineasta, várias pessoas acompanharam e ajudaram nas produções. É o caso do produtor cinematográfico William Biagioli, que já esteve ao lado de Muritiba em dois longas, quatro curtas e quatro Festivais Olhar de Cinema, e que considera sua trajetória ao lado dele de valor inestimável “Não é só apenas uma questão de aprendizado, mas também de confiança que se estabeleceu mutuamente ao longo desses quatro anos. Eu era um profissional completamente diferente há quatro anos. Hoje, mais maduro, vejo que todas estas oportunidades me fizeram crescer como profissional e ser humano”. A última experiência, de certa forma “louca” de William junto a Aly foi o desafio de conseguir uma grua fora do orçamento do “O Homem que Matou Minha Amada Morta” e que era necessária para gravar um plano sequência. “Não só eu tive que conseguir convencer a locadora a emprestar a grua, como carreguei ela na van de equipamentos até o set e ficamos um dia inteiro ensaiando a cena que está no filme”.

Talvez seja por isso, essa mistura entre anseios e questionamentos pessoais com discussões universais, que há tantas semelhanças entre ver as obras de Aly, e tomar um café com o cineasta. Os debates levantados em ambos os casos, como já comparados nesses breve perfil, são fortes e nos atingem em cheio. E assim como o rigoroso inverno curitibano, por mais que você se prepare, afim de evitar o congelamento instantâneo, as dúvidas e questionamentos lhe atingem o subconsciente pelas brechas que os pensamentos do dia-a-dia deixam.

O que fazemos com as nossas desgraças


Por Julmara Mendes
Foto: divulgação

No quarto, apenas o som de um teclado de computador e um jovem a digitar nervosamente. Sem qualquer outro aparato de produção, além do pc com conexão à internet e um programa de edição, Arthur Tuoto se dedica à criação de mais um filme. Com um estilo próprio, ele se recusa a seguir um orçamento, formar uma equipe, trabalhar com planilha ou CNPJ. Com apenas 29 anos, Arthur Vicentini Tuoto é artista visual e professor. Mas, além disso é cineasta, com formação técnica na AIC (Academia Internacional de Cinema). Tuoto considera que este é o filme que melhor define o seu trabalho conforme a entrevista publicada no catálogo da Mostra de Tiradentes, na época em que o seu longa estreou naquele local.

O novo filme se chama "Aquilo que fazemos com as nossas desgraças" e o título foi inspirado numa frase da poeta Alejandra Pizarnik que, segundo ele, retrata bem o que é fazer cinema no Brasil: "Foi necessário o computador e uma mediateca infinita no ambiente online à minha disposição, à disposição de qualquer um. O Paraná não lança um edital de cultura voltado ao audiovisual há mais de um ano." Tuoto acha que, de certa forma, esse processo e o próprio título do filme é uma resposta a isso.

Na entrevista, ele resume como produz os seus filmes, especialmente sobre como se serve de imagens e sobre a questão ambígua de autoria que os seus filmes questionam. “O meu processo é sempre o mesmo: a apropriação. A estratégia na abordagem dessa apropriação talvez seja determinada em alguma medida pelo material disponível, por aquilo que eu vou me deparando ao longo do caminho. A essência desse processo reside justamente nesse equilíbrio entre aquilo que eu quero mostrar e o potencial que o material que eu encontro me oferece. É nessa manipulação, nessa negociação, nessa manutenção de certos significados possíveis que o filme acontece".

Quando pergunto se acredita em Deus, ele me responde que não acredita no conceito de Deus, embora tenha uma espiritualidade independente de qualquer religião. Solteiro, não sabe responder se quer ter filhos ou não. Pelo jeito é um apaixonado pelo que faz, pois deseja continuar buscando atingir novas possibilidades na linguagem audiovisual, trabalho esse que já lhe permitiu conhecer países como Portugal, França e Argentina.

Muito simpático e atencioso, Tuoto me recomenda ler um dos textos do seu site, no qual ele conta à uma amiga, de uma de forma divertida, como conheceu a namorada pela internet, por meio de um chat. A amiga é Paula Borghi que acha natural ele ter se encantado pela moça analisando os seus vídeos, embora ele diga nunca ter pensado a respeito.

Num texto bem informal, ele confessa à amiga que roubava internet do vizinho e, na conversa vai respondendo de forma filosófica: "Na verdade eu nunca tinha pensando muito nisso, mas de fato a nossa relação se iniciou ‘virtualmente’, ou ‘digitalmente’, seja por imagem/chat, seja por telefone/skype, etc. E é claro que no mundo digital esse processo de encantamento é sempre muito forte, justamente porque existe toda uma idealização do outro (caso que faz com que vários casais se encontrem na net talvez). E logo depois do primeiro encontro, quando existe a realidade, esse encantamento até aumenta, na espera do próximo encontro e consequentemente na alimentação desse ‘ideal’”.

No texto - que foi catalogado na exposição Ateliê Aberto #3, Casa Tomada, em São Paulo - Paula se refere a um livro “Invenção de Morel” do Adolfo Bioy Casares no qual o narrador está em um ambiente imersivo e busca tanto por ficar invisível que começa a ver coisas que antes era invisível a ele e que este "começar a ver coisas” pode também ser um estado de loucura. Como amiga, ela deve saber o porquê da comparação.

Na crítica do Estadão sobre os filmes apresentados na quinta à noite (um filme do Paraná e outro da Paraíba), observa-se que "'Aquilo Que Fazemos Com Nossas Desgraças' apropria-se de um áudio de Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miéville, ao qual Tuoto superpõe imagens que não colheu, mas que transforma em suas”. Juliano Gomes, um dos críticos convidados, chamou a atenção para o fato de o filme iniciar sem os créditos, embora no final conste o nome do autor. 

Tuoto admite que sua assinatura contradiz o conceito, mas afirma que é justamente isso o que o fascina. E não há dúvidas de que realmente é fascinante podermos criar algo novo usando o recurso da apropriação de obras, textos, imagens de outras pessoas.

Realidade e ficção


Fernando Severo deu seus primeiros passos na carreira influenciado pela mãe

Por Marcio Sakyo Poffo Taniguti


O relógio marcava 11h50. Pela porta da sala, era possível ver vários alunos passando no corredor. Pontualmente ao meio dia, o cineasta entra na sala em que estávamos. Um homem grisalho, estatura média, vestindo uma calça bege, uma camisa de malha verde clara por baixo de uma camiseta aberta na cor marrom e sapatos pretos. Carregava na mão esquerda duas caixas de DVDs, as quais colocou sobre a mesa. Puxou uma cadeira e sentou. Estava diante de mim o professor, cineasta e diretor do Museu de Imagem e Som do Paraná, Fernando Severo. 

Caçador ele não é, mas nasceu “numa cidadezinha do interior chamada Caçador, em Santa Catarina”. Veio para Curitiba estudar Engenharia Civil. “Eu até tentei fazer o curso, mas resolvi abandonar e optei por Publicidade e Propaganda”.

A Cinemateca influenciou bastante Fernando. Ainda durante a faculdade de Engenharia, o cineasta já frequentava diversos cursos livres, inclusive um curso prático de cinema Super 8, que “era uma bitola que existia na época, mais simples, de custos mais baixo”. Foi assim que viu o cinema na prática, passou a gostar ainda mais e resolveu seguir a carreira de cineasta. 

Dona Diva, a mãe, o influenciou no lado intelectual. Diva frequentemente ia ao cinema e Fernando sempre a acompanhava. Foi assim que ele começou a dar os primeiros passos para se tornar um cinéfilo. 

Dedicado. É assim que a amiga Renildes Carli que trabalha no Museu da Imagem e do Som, o define. “Ele é um amor de pessoa, de um coração enorme! Ele presta muita atenção no ser humano”.

“Corpos Celestes” é um filme do qual podemos extrair algumas informações sobre o próprio Fernando. “Tive interesse de leigo em astronomia e senti que as histórias davam margem a abordar vários temas que me são caros, ligados a questionamentos existenciais, incluindo elementos da vida interiorana paranaense, muito presentes na maior parte da minha infância”.

“O Mundo Perdido de Kozák” foi um de seus primeiros filmes. “Este ganhou 17 prêmios, inclusive o Festival de Gramado”. Nos anos 80 e 90 ele produziu “Os Desertos Dias”, além de dois filmes da série Panorama Histórico Brasileiro, do Instituto Itaú Cultural de São Paulo, entre outros. 

Filme marcante para o cineasta foi “Os visionários”. Seus olhos chegam a brilhar mais quando fala do filme. “Foi trabalhoso, viajei durante vários dias pelo interior”. O problema principal era gravar as cenas externas, pois sempre estavam sujeitas às condições climáticas. Fernando demonstra querer dar um sorriso e completa dizendo que “foi um trabalho harmonioso da equipe foi prazeroso fazer”

O mais trabalhoso “com certeza foi ‘Corpos Celestes’”. Filmado em seis semanas a fio, com várias locações diferentes, muitos equipamentos, a equipe grande e vários efeitos especiais. “Todo o filme tem o seu grau de dificuldade, uns mais, outros menos”, diz Fernando . 

Fernando é um cineasta simples, com uma fala suave, extremamente calmo. Atrás dos óculos um olhar sério. Fechado, difícil tirar um sorriso deste homem. Apesar da sobriedade, uma coisa é de se notar: falando da família, principalmente da mãe, sua fisionomia muda, se alegra.

O defeito, para a amiga Renildes, “é ser extremamente teimoso e um pouco ansioso para tratar de certas coisas”, além de ser um “cinéfilo exigente e rigoroso, especialmente na apreciação de trabalhos de colegas curta-metragistas”.

Um documentário é o atual trabalho de Fernando nos próximos meses. “Estou terminando um documentário sobre o Professor Newton da Costa, que é filósofo brasileiro e tem uma carreira internacional”. Fernando adiantou que o lançamento é para o final de julho. 

Inspiração não é uma coisa única, “mas a minha vida me leva a me interessar por certos temas e esses temas, quando possível, viram filmes”. Uma peça de teatro, uma notícia de jornal, uma conversa com alguém ou um outro filme que o impactou, sempre levam a algum tipo de inspiração em seu trabalho.

Do vôlei ao cinema com Wellington Sari

Por Jéssica Dombrowski Netto

Foto Bruna Dal Vesco


Em 2008 eu entrei para a faculdade de cinema da FAP. Um dia ele estava fazendo seu primeiro curta universitário e eu estava na sala de edição. Me lembro ter feito alguns comentários sobre a produção dele. Acho que foi aí que começamos a conversar e há cinco anos trabalho com ele aqui na O Quadro. 

Assim começou a conversa em um final de tarde na produtora de cinema em que Anderson Simão trabalha. Ao subir as escadas, o que mais se vê pelas paredes são quadros de filmes de todas as épocas. Acho que é daí que veio o nome da empresa. Dois sofás laranjas confortáveis em uma sala com a vista para a rua e o céu escurecendo. Além de amigos, os dois parceiros trocam conselhos e experiências de vida, já que os gostos são meio parecidos.

A conversa se estendeu…

Aqui na produtora ele dirige e escreve mais do que eu. Eu sou mais prático e ele é o mais pensante. É como se eu fosse o Paul Mccartney e ele o John Lennon. Isso é outra coisa que você vai notar. Ele adora fazer analogias. Ele também é bem teimoso, a gente sempre discute. 

O dito popular perde o amigo, mas não perde a piada se encaixa na personalidade dele. Faz as pessoas rirem em qualquer situação.

Após perder o contato com o seu pai e fazer terapia por dez anos, Wellington Sari, que desmentiu esta primeira frase, leva a vida com um diploma de Jornalismo pelo UniBrasil e outro de Cinema pela FAP e atualmente é produtor, escritor e ator. Antes de entrar na faculdade em 2006, era jogador de vôlei. 

Resgatou a vontade de ganhar nas competições de kart que realiza com a galera da produtora e agregados. A competitividade de Wellington o permite jogar sujo para alcançar a linha de chegada. 

Na última corrida a gente tava sempre em terceiro e quarto e na última curva pra chegar na reta ele bateu em mim pra me tirar da pista. 

Wellington sabia que o seu amigo ia contar essa história da corrida. “Talvez é isso que me define. Alguém que tira todos do caminho para ultrapassar”, disse o cara que brinca de ser criança toda vez que está pilotando. É um corredor. Assim como fazia quando era mais jovem e se imaginava um cineasta. Diz saber quem é, mesmo sem querer.

Ao abrir a porta de sua casa, o que chama a atenção é uma estante lotada de objetos de ficção científica. Além do boneco ET em cima da mesa redonda da sala. Sua autoanálise sobre tais objetos é que ele seria uma criança que não se desenvolve ou um alienígena no seu próprio espaço.

Os produtos foram comprados graças a uma de suas obsessões momentâneas, como a vez que se viciou na história da guerra do Vietnã por algumas semanas. Ou durante as Olimpíadas de inverno e verão quando passa a semana inteira em casa assistindo do início ao fim.

Gosto bastante de ficar em casa. Quanto mais velho eu fico, mais eu sou caseiro. Se eu vou em algum lugar ouvir música, eu acho tudo ruim, então eu fico ouvindo as minhas músicas e pirando sozinho, com a galera ou com a namorada.

Música e cinema. Era disso que Wellington tratava na faculdade. O seu filme favorito naquele momento era Um tiro na noite, de 1981. Dez minutos depois a preferência mudou. O diretor deste filme, Brian de Palma, faz parte do seu porto seguro, junto com John Hughes, Eric Rohmer e Hitchcock. Mas a verdade é que seu cineasta predileto é ele mesmo.

Tenho acompanhado a minha carreira com cada vez mais interesse.

E é claro, desmentiu a frase logo após dizê-la. 

Com muita brincadeira é contada um pouco da vida de Wellington Sari, em uma semana de junho ao som de The Jesus and Mary Chain no disco de vinil que foi tocado em seu sobrado.

Onde tenha gente


Para Eduardo Baggio, cineasta, basta ter apenas uma pessoa para se ter um documentário. Da pelada à própria infância, por uma hora ou um minuto, o humano é história.

Por Natalia Bruckner
Existem três versões da etimologia da palavra “pelada” para designar o jogo de futebol amador repleto de frangos, furadas, bolas murchas e cheias. A primeira defende que a palavra “pelada” vem de pé, essencialmente do amadorismo do jogo juvenil, onde se mete os pés descalços na bola durante um jogo sem regras, sem uniforme ou sem árbitro. A segunda hipótese é que vem de “pelar’, pois antigamente as bolas utilizadas eram de borracha e causavam assaduras nos pés. A última possibilidade vem da condição dos campos onde se jogava, com pouca terra, quase pelados. É na pelada que todos se tornam iguais. Terno e gravata, calças jeans e chinelo, roupas sujas de tinta e cimento são trocadas pelo uniforme, ou coletes que classificam os jogadores pelos time. 

É no meio desse universo que Eduardo Baggio fez nascer em 2009 “Amadores do Futebol”. Era na frente do estádio Erondi Silvério, conhecido como “Vasquinho”, localizado no bairro do Pilarzinho em Curitiba, que Baggio percebeu o verdadeiro significado do futebol, não como um jogo, com sua arbitragem ou os polpudos investimentos que giram ao seu redor, mas pela capacidade de reunir pessoas de todos os tipos e classes em torno de uma causa que não é econômica, profissional ou religiosa.

Nunca havia visto Eduardo antes, a não ser por foto quando o adicionei no Facebook logo depois de marcar a entrevista, por telefone. Recebi a única informação sobre ele alguns dias antes enquanto conversava com Paulo Biscaia Filho, amigo e também cineasta. “São dois metros e sete de altura. Ele tem isso mesmo. Dois e sete. Mas é só tamanho. Ele é super zen”.

Cineasta e professor no cinema na Faculdade de Artes do Paraná, Eduardo Baggio sempre teve fama de tranquilo. Quando menino alternava as boas notas com as bagunças no fundão, lugar da sala onde pertencia. Ouvia bandas de metal no Hangar e frequentava o Korova. “Só briguei com a polícia do estado”, disse, referindo-se ao “Massacre do dia 29”, no qual vários professores foram cruelmente reprimidos durante uma manifestação que reivindicava ajuste salariais aos professores do estado, criticando a gestão de Beto Richa no governo do Paraná. A Avenida Cândido de Abreu, em frente ao Palácio do Governo, foi no dia 29 de abril de 2015 o palco da única briga na qual ele havia se envolvido na vida. 

A entrada dele no universo do cinema se deu tarde, quando estudou Jornalismo na Universidade Federal do Paraná entre os anos 1995 e 1999. Foi na faculdade, vendo o lado jornalístico do cinema através dos documentários, que se envolveu com a área e passou a realizar trabalhos experimentais. “Não sou aquele caso de pessoa que sabe o que fazer desde pequeno, desde os seis, sete anos. Tive que me enfiar para achar”.

Assim como a pelada une pessoas de diversas cores, credos e classes sociais em torno da bola, a arquitetura guarda a história e para as lembranças contidas em cada canto da cidade. “Arquitetura é a única forma de arte que você não pode negar mesmo que queira”. Ao parafrasear a frase de Décio Pignatari, de quem foi aluno, Eduardo consegue explicar que a arquitetura representa a necessidade básica humana exposta de todas as formas. “Não é preciso ir ao museu ou a uma galeria de arte para conhecer arquitetura. Ela está aí para você morar, se proteger do frio”. E assim, em 2010, surgiu “Traço Concreto”, um documentário que retrata as fases arquitetônicas de três casas em Curitiba. Falando de casas, Eduardo volta a sua fixação pela humanidade cotidiana ao retratar as casas como protagonistas que nascem, crescem e morrem. 

Entre as obras de Eduardo que Paulo Biscaia Filho mais admira, está “28 anos”, um curta com um minuto de duração produzido em 2003 para o Festival do Minuto. Uma relação em fotografias e diálogos entre pai e filho que mostra as tênues nuances de semelhanças e diferenças entre Eduardo e Joacir Baggio em várias fases das vidas dos meninos e homens. “Um trabalho que expõe o artista de uma forma singela. Bastante comprometimento despido de narcisismo”, segundo Paulo. O nome “28 Anos” vem da diferença de idade entre Eduardo e o pai. 

Nos levantamos do banco frio de concreto do Mon. Agora ele está de viagem em Lisboa, cidade que, pelo mar, pelas pessoas que moram nela e pela agitação cultural, ele disse ser uma de suas cidades favoritas.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Uncertain Terms discute incertezas da vida adulta


Filme foi exibido no Festival Internacional Olhar de Cinema com a presença do diretor Nathan Silver

Por Victória Brunna

Na programação do 4º Festival Internacional Olhar de Cinema, o filme Uncertain Terms (Termos Incertos, em tradução literal) exibiu um pouco do talento do diretor Nathan Silver. Vi o filme às 15h45, numa sessão do dia 15 de junho com a presença do cineasta, formado na Tisch School of The Arts.

A produção é classificada como ficção e tem duração de 1h32. O filme conta a história de um abrigo de meninas grávidas adolescentes pago pelos pais até o bebê nascer. A trama tem como foco a vida de Nina e Robbie. O elenco principal tem India Menuez (Nina), David Dahlbom (Robbie), Caitlin Mehner, Cindy Silver, Tallie Medel e Hannah Gross.


Esse lar foi criado pela tia de Robbie, onde ela também mora. O jovem ajuda a manter a casa em ordem, principalmente com reparos estruturais. Ele aceitou ajudar, após entrar em crise no casamento, pois sua mulher o traiu. Com isso, se tornou o único homem da casa, despertando atenção das meninas. 

Nina, por sua vez, é uma garota ruiva, diferente e madura para sua idade. Ela se aproxima do rapaz, com quem divide pensamentos e sonhos. A adolescente namora com um delinquente, que ainda não compreendeu o peso da paternidade. O enredo segue nesse triangulo amoroso. Robbie e Nina se aproximam cada vez mais, enquanto se afastam de seus antigos relacionamentos. 

Termos Incertos retrata a vida de personagens com incertezas. O fim aberto revela isso ao espectador. Assim como situações da rotina das pessoas. Robbie, após uma traição busca o termo certo, um novo rumo na vida. Aos 30, anos o personagem encontra em uma menina com 18 anos a vontade de recomeçar, de aceitar seu filho e tratá-lo como pai. Já Nina, ingênua e ansiosa com a gravidez, está carente para ter alguém para contar e viver esse momento contagiante. É emocionante. 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Retrospectiva exibe grandes clássicos de Jacques Tati

Cena de "Playtime - Tempo de Diversão". Foto: Reprodução.
Aclamado cineasta francês Jacques Tati foi tema de uma retrospectiva especial no 4° Olhar de Cinema, que ocorreu entre 10 e 18 de junho de 2015 em Curitiba

Por Alexandre Grecco

A mostra "Olhar Retrospectivo: Jacques Tati" apresentou ao público curitibano nada menos que oito obras, 6 longas e 2 curtas, do mestre francês da comédia Jacques Tati. Dentre as obras estavam "As Férias do Senhor Hulot" (França, 1953), "PlayTime – Tempo de Diversão" (França, 1967) e "As Aventuras do Sr. Hulot no Tráfego Louco" (França, 1971).

Em "As Férias do Senhor Hulot", o diretor mostra história do cômico e atrapalhado Hulot, que resolve passar suas férias em um resort no litoral da costa do Atlântico. Logo que chega é notado por todos por seu carro barulhento e seu jeito atrapalhado e inocente, bem diferente dos demais turistas.

Entre confusões e trapalhadas, o hóspede acaba dividindo opiniões dos outros turistas hospedados no resort. Dentre os poucos que gostam do seu jeito peculiar, está uma bela moça, que se impressiona e até o ajuda em suas trapalhadas.

Orlando Galviz.
"Eu já vi [filmes de Tati] várias vezes em minha juventude. Quando existem reprises como essas, sempre venho. Gosto dos filmes dele, pois são clássicos", diz o aposentador Orlando Galviz, de 73 anos. Ele saía da exibição de "As Férias do Senhor Hulot", um dos seus favoritos, quando foi abordado por nossa reportagem.

No filme, há muitas questões vigentes até hoje. A ponto de qualquer pessoa conseguir identificar as críticas sociais do cineasta. Um dos pontos abordados pelo diretor é a capacidade de captar a debilidade da natureza do ser humano, independente da idade. Até as crianças, ao portarem uma lupa, podem ser cruéis. Uma delas chega a queimar uma barraca.  Em tempos de debate sobre a redução da maioridade penal, podemo efetivamente discutir o quanto isso é um ato criminoso e o quanto isso parte da inocência de um jovem. 

"Jacques Tati é genial. Ele consegue pintar realidades existenciais, apresentando em cada cena o comportamento e as reações do ser humano. Para mim, o diretor é daquelas genialidades que não vão morrer nunca", avalia Galviz. 

Em "PlayTime – Tempo de Diversão",  o Sr. Hulot se depara com outra aventura. Dessa vez, são os turistas americanos que fazem bagunça e causam confusão. 

Kauan Lunardon.
Em "Aventuras do Sr. Hulot no Tráfego Louco", o personagem trabalha como funcionário de uma empresa automobilística. Ele deve transportar o protótipo de um novo carro para uma Exposição Automobilística Mundial, que ocorre em Amsterdã. Durante o trajeto, muitas coisas ocorrem. O caminhão quebra, há problemas de documentação e perseguições policiais. 

O estudante universitário Kauan Lunardon, 18 anos, conhecia pouco da obra de Tati e adorou o que viu na mostra paralela do diretor no Olhar de Cinema. "Gostei muito porque ele é muito diferente dos filmes comerciais temos hoje. O cineasta explora a imagem e o humor de um jeito único. Isso foi o que mais marcou."

Antes de serem exibidos, os filmes tiveram uma excelente recuperação, que permitiram uma imagem incrível, considerando que alguns dos títulos tinham mais de 60 anos. As obras apresentaram uma forma de humor que parecem ter inspirado o personagem Mister Bean, de Rowan Atkinson. O tratamento das cenas, porém, é mais refinado. Tudo é muito simples, quase evitando ser engraçado. 

Na plateia, as gargalhadas vinham de todas as idades. Isso mostra que uma boa comédia não tem idade e nem precisa ser forçada. As obras de Jacques Tati mostram que a genialidade não depende de coisas grandes e podem ser encontradas em qualquer lugar.

Documentário mostra dilema de criador ilegal de animais silvestres em Nova Yor

Cena de "Ming of Harlem: Twenty one Storeys in the Air". Foto: Reprodução.
"Ming of Harlem: Twenty one Storeys in the Air" acompanha caso real de homem que perde tigre e acaba preso por manter cativeiro ilegal

Por Patrick Ribeiro

O documentário "Ming of Harlem: Twenty one Storeys in the Air" foi um dos destaques da mostra Novos Olhares. Dirigido por Phillip Warnell, a produção foi exibida pela primeira vez no Festival Olhar de Cinema no dia 13 de junho. 

A obra acompanhar Ming, um tigre criado desde filhote em cárcere doméstico por Antoine Yates no vigésimo primeiro andar de um prédio no Harlem. No mesmo apartamento vive Al, um crocodilo. Um dia Ming foge, as autoridades americanas descobrem os animais escondidos e Yates acaba preso. 

O filme apresenta duas perspectivas distintas a partir do fato. Em uma, Antoine é o protagonista. Na outra, há um narrador onisciente. Angustiado e nostálgico, o criador revela como era seu cotidiano com os animais e sua relação afetiva com eles. Para a câmera, ele fala sobre o medo de estar próximo de seres dóceis, mas naturalmente predadores. 

A narração onisciente mostra a imponência natural dos animais e a dualidade entre criador e criatura. Há também um jogo de imagens. Às vezes, aparece uma criança solitária fazendo alusão ao Tigre. Em outros momentos, o ambiente cinematográfico faz alusão a uma floresta, como se estivesse vendo a partir dos olhos do Tigre ou do Crocodilo.

Grande parte das cenas não tem diálogos. Apenas imagens da vivência dos animais, que enfatizam a extrema solidão. Trata-se de um ambiente opressor, com grandes portas de ferros e poucas janelas. Essa claustrofobia contradiz o lado de fora do prédio, que mostram a inquietante e grandiosa Nova York.

Existe uma complexidade no discurso do filme. Se, por um lado, os animais estão presos e fora de seu habitat natural, Antoine consegue estabelecer uma relação amorosa bem forte com eles. Quando são retirados dele, o espectador sente como se ele tivesse sido desmembrado. 

domingo, 5 de julho de 2015

"Soft in the Head" tem realismo bem-humorado

Cena de "Soft in the Head", de Nathan Silver. Foto: Reprodução. 
Filme de Nathan Silver mescla o cômico e o trágico em trama inesperada sobre confusões em um jantar

Por Patrick Ribeiro



No dia 16 de junho, Nathan Silver esteva na quarta edição do Festival Olhar de Cinema para debater sobre seu filme "Soft in the Head". Na ocasião, o cineasta falou sobre os bastidores da obra, suas inspirações e as estratégias que usou para construir a história. 

No começo de sua fala, o diretor disse que todos os personagens de sua obra são idiotas e foram inspirados em alguém que conhece. Além das experiências pessoais, ele também se inspirou no livro "The Idiot", de Dostoievski, para escrever a trama. As filmagens ocorreram em seu apartamento com muitas cenas de improviso.

A narrativa é sempre inesperada na obra de Silver. Diferentemente dos desfechos de filmes habituais, "Soft in the Head" mostra circunstâncias familiares ao público. Os tais personagens "cabeças ocas" lidam com esses momentos de forma diferente do que geralmente é visto nas ficções cinematográficas.

O cineasta instiga o espectador ao articular o trágico e o cômico de uma forma inesperada, criando uma obra repleta de realismo. Na trama, Natalia (Sheila Etxeberría) pede para o namorado (Nick Korbee) ser compreensivo, pois iria a um jantar de família de sua amiga Hannah (Melanie Scheiner), em que haveria um moço (Carl Kranz) apaixonado por ela. 


O pedido se mostra frustrado, pois resulta em uma briga com o namorados. Na cena seguinte, Natália surpreende a família de judeus ortodoxos ao chegar embriagada para o jantar. Por causar transtornos ao momento sagrado, Natalia é convidada a se retirar da confraternização. Ela peregrina pelas ruas de Nova York sem rumo até conhecer Mauri (Ed Ryan), que lhe oferece um abrigo quando está amanhecendo.
No decorrer do filme, há cenas engraçadas, principalmente pela estupidez como que os personagens lidam com seus problemas. Ninguém consegue resolver as questões mais simples de um conflito. Isso revela um pouco da subjetividade dos personagens, ligado a um senso comum de moralismo. Silver parece interessado em questionar essa moral com humor, mas sem esquecer que isso também pode ser trágico. 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Clássico de Rossellini foi destaque em mostra paralela do Olhar de Cinema

Cena de "Stromboli". Foto: Reprodução. 
Stromboli faz parte do movimento neorealismo italiano e discute o impacto da Segunda Guerra Mundial nos países europeus

Por Patrick Ribeiro


O filme "Stromboli" esteve entre os clássicos exibidos no 4°Olhar de Cinema. O título foi produzido em 1950 na Itália e teve direção de Roberto Rossellini, um dos mais influentes cineastas do neo-realismo italiano, movimento cultural que levava a realidade social e econômica da época no país para a ficção cinematográfica. 

Em "Stromboli" esses elementos políticos se evidenciam na vida de Karen (Ingrid Bergmam), que, assim como milhões de europeus, ainda sofre os efeitos da Segunda Guerra Mundial. Após se refugiar em vários países, ela acaba aprisionada pela policia italiana. Com visto negado para Argentina, onde parte de sua família estava, a jovem senhora casa-se com Antonio (Mario Vitale), um soldado italiano. 

Após o casamento, os dois vão para "Stromboli", uma ilha vulcânica no Mar Mediterrâneo e terra natal de Anotonio. No local, Karen se depara com a cultura dos habitantes, muito diferentes da sua. Para se habituar, enfrenta muitas dificuldades. 

Na trama, Rossellini busca mostrar os transtornos do choque cultural dos europeus com um conflito em escalas mundiais. Por essas e outras, "Stromboli" é, sem dúvidas, um filme inesquecível, que faz jus aos Olhares Clássicos do festival curitibano.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Loucura Entre Nós: um debate sobre os limites da sanidade

Cena de "A Loucura Entre Nós". Foto: Reprodução. 
Documentário dirigido por Fernanda Vareille reúne histórias de pacientes do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira e como a loucura faz parte de suas vidas


Por Camile Kogus

O que determina se uma pessoa sofre da loucura? Qual é a linha que separa quem tem sanidade em perfeito estado, daqueles que vivem, pensam e agem de uma forma fora do normal? Essas são perguntas que o documentário "A Loucura Entre Nós" não pretende sanar. O objetivo da obra da diretora Fernanda Vareille parece ser o de fazer com que o espectador não veja o “louco”, mas, sim, que seja o “louco”. 

Sem qualquer anestesia, o filme traz a tona um debate que parece ter sido esquecido entre a sociedade, ou apenas empurrado para debaixo do tapete. Em um golpe forte e sem piedade, a obra inicia-se mostrando os pacientes do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira através das grades. O que se vê e ouve são pessoas que parecem viver em um lugar apenas delas. Às vezes por faltar um lugar para si na sociedade. Às vezes por faltar um lugar para a sociedade dentro de si. 

As cenas em seguida parecem ditar um debate interno na mente dos espectadores. Na mescla das histórias dos pacientes, o documentário revela a vida de pessoas que deixaram a angústia sair detrás da máscara da normalidade e que agora tentam, de algum modo, achar um jeito de voltar ao cotidiano, seja sarando suas angústias, ou reaprendendo a escondê-las. O espectador começa então uma jornada pelos desafios que os que são tachados como loucos passam diariamente. 

A falta de um lugar para si, o relacionamento complicado com familiares, o julgamento da sociedade e o abandono são apenas alguns dos empecilhos apresentados nessa trajetória. Nos últimos minutos de documentário, quando a paciente Elizangela fala a frase “O hospital psiquiátrico é isso, é loucura. Somos todos loucos uns pelos outros”, é impossível não se sentir parte desse mundo onde os limites da sanidade parecem ficam fracos perante as cobranças do mundo. No fim, o ditado “de médico e louco todo mundo tem um pouco” parece explicar perfeitamente o modo como aqueles personagens vivem. Perdidos em suas loucuras, mas buscando a cura uns nos outros. 

A obra 

A obra, que estreou na quarta edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, levou cerca de três anos para ser produzido. Segundo Amanda Graciole, produtora do filme, conta que a equipe teve muito cuidado em todas as etapas de produção. 

Diretora e produtor de "A Loucura Entre Nós". Foto: Camile Kogus. 
”A gente teve algumas dificuldades. Afinal, é fácil você entrar em um hospital e ser aceito pelos funcionários e também pelos pacientes. Então tudo foi feito com muito cuidado e paciência. Nós tivemos orientação do corpo médico e dos assistentes sociais e tudo mais, e sempre tivemos muita cautela pois estávamos lidando com seres humanos, com histórias reais”, afirma a produtora. 

Ela completa explicando que a experiência de mostrar a vida de pacientes de um hospital psiquiátrico acabou por mudar não só a vida dos personagens, mas também da equipe do documentário. “Todos os dias, quando a gente terminava as gravações, nós discutíamos todos os sentimentos que a gente sentiu. E eu tenho certeza que ninguém saiu igual dessa experiência, nós começamos a ter olhares diferentes”.

O documentário foi inspirado no livro "A Loucura Entre Nós", do psicanalista Marcelo Veras e foi concluído em março deste ano. Assim que foi finalizado, a equipe viu na quarta edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba uma oportunidade de lançá-lo mundialmente.

“Participar de um festival como esse, no qual se reúnem jornalistas, críticos e curadores tão interessantes é importantíssimo para a gente entender quais são nossos pontos fortes e fracos, quais são os caminhos que o filme pode fazer, e para a carreira de toda a equipe que participou da produção”, relata Beto Mettig, pós-produtor do documentário.

Os planos da equipe de produção agora é participar de outros festivais de cinema para divulgar a obra e também realizar um lançamento em Salvador, onde ela foi gravada. Já em agosto, o filme será exibido na primeira edição do Pirenópolis.doc – Festival de Documentário Brasileiro, que será realizado entre os dias 6 e 9 na cidade de Pirenópolis, Goiás.

terça-feira, 30 de junho de 2015

"Fog" agrada público no Festival Olhar de Cinema


Produção exibida no dia 15 de junho teve sala cheia e discutiu a solidão e as práticas bizarras do nosso dia a dia

Por Michelle Machado

O documentário "Fog" (neblina) foi exibido no dia 15 de junho, no Espaço Itaú do Shopping Cristal. O filme usa das imagens para discutir temas como a solidão e a rotina do dia a dia. Segundo o que foi apurado pela nossa reportagem, a produção da diretora suíça Nicole Vögele era uma das mais aguardadas pelo público do Festival Olhar de Cinema. A sala estava praticamente lotada. 


Ao longo dos 60 minutos, "Fog" tratou de neblina e solidão, mostrando pessoas comuns em suas atividades diárias. Ainda que a obra não deixe isso claro, a mensagem parece querer discutir como essas práticas carregam elementos bizarros.

A exibição do filme contou com a presença de uma das produtoras e agradou muito ao público. O estudante Rafael Marques, 22 anos, saiu maravilhado da exibição. “Fog foi um dos melhores filmes que assisti na vida."

domingo, 28 de junho de 2015

Filme de Jorge Forero tem discurso plural sobre a violência


"Violência" foi exibido no dia 15 de junho e problematizou a banalidade com que geralmente enxergamos a violência na sociedade ocidental

Por Patrick Ribeiro 

O filme "Violência", do cineasta colombiano Jorge Forero, é composto por três historias, que abordam o universo da criminalidade, do contrabando e das milícias na Colômbia. A brutalidade das cenas apresentadas pela trama não são muito diferentes do que o público brasileiro está acostumado a perceber, mas é preciso refletir um pouco mais sobre a obra. 

A violência é intrínseca ao modo de vida dos ocidentais, de tal forma que se torna banalizada para a plateia. No filme e Ferrero, o personagem interpretado por Rodrigo Velez, da primeira narrativa, foi sequestrado e acaba sujeitado às imposições de um grupo de guerrilheiro. Não há diálogos. A angústia do personagem se expressa pelo rosto do protagonista, que vive acorrentado em uma floresta. Sem perspectiva alguma de fuga.  

A segunda narrativa apresenta o cotidiano de um jovem suburbano desempregado, que se torna um paramilitar. Sua vida é marcada pela violência do Estado, que também é banalizada e quase "imperceptível". A trama se desenvolve nos relacionamentos que o personagem estabelece com a sociedade a partir de temas como sexualidade, criminalidade e vocabulário. 

A última narrativa expõe o cotidiano de um homem, vivido por David Aldana. Gentil e amigável na sua vida íntima, mas opressor como líder paramilitar. Essa é a trama que mostra como Forero busca um retrato plural em seu discurso sobre a violência, sem buscar lados do bem ou do mal. Há sempre uma relação multifacetada sobre o tema nos personagens e nas instituições que os afetam. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Professores de Jornalismo do UniBrasil participam de eventos em festival de cinema

Paulo Camargo discute importância dos clássicos. Foto: Clayton Rucaly.

 Docentes, que estiveram no evento representando o site A Escotilha, debateram rumos da crítica de cinema no Brasil

Por Clayton Rucaly

Professores de Jornalismo do UniBrasil - Centro Universitário marcaram presença na programação do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Cinema de Curitiba. No dia 15 de junho, Paulo Camargo e Rodolfo Stancki participaram de debates sobre crítica de cinema na Livraria Cultura, do Shopping Curitiba. 

Os dois acadêmicos participaram das atividades representando o site A Escotilha. Stancki participou da mesa-redonda "Critica cinematográfica digital", ao lado dos críticos Luiz Carlos de Oliveira Junior, Ariel Schweiter e Filipe Furtado. 

O publicitário Alejandro Mercado, que também trabalha n'A Escotilha, disse que o evento foi proveitoso. "A principal lição que pode ser tirada é que a crítica em cinema é importante, especialmente como forma de ampliar a visão e as compreensões do filme e do cinema enquanto arte." 

Ao discutir o ambiente digital, o debate deixou uma provocação para o público: como discernir uma boa crítica no ambiente digital, em que todas as pessoas podem acessar ferramentas de produção de conteúdo? "Precisamos ter filtros sobre a profundidade dessas análises, para não ficarmos restritos aos pontos de vista que são iguais aos nossos", diz Mercado. 

Professor Rodolfo discute crítica de cinema digital. Foto: Alejandro Mercado / A Escotilha / Reprodução. 
O professor Paulo Camargo discutiu "O papel dos filmes clássicos na formação do olhar", ao lado de Pablo Villaça, Pedro Plaza e Willian Bagioli. No início da discussão, os participantes comentaram que um clássico é definido assim por diversos fatores, como a mensagem, a periodicidade e a qualidade do produto. 

Outro tema apresentado pelos debatedores foi o hábito "vira-lata" dos brasileiros ao não valorizar o cinema nacional. Isso é ainda mais enfático nas produções independentes, que desaparecem diante dos grandes títulos de Hollywood e da Globo Filmes. "O cinema brasileiro tem desafios. Esse não é um problema endêmico, mas a verdade é que a arte é desvalorizada aqui e é preciso lutar para sobreviver", avaliou o docente do UniBrasil.

Camargo também vê com olhar positivo o modo como o cinema tem ganhado importância na vida das pessoas. "Mais do que nunca, as pessoas têm acesso aos filmes feito por brasileiros e os meios de comunicação estão divulgando com mais ênfase nosso cinema", concluiu.

Bang Bang foge dos padrões convencionais

Filme satiriza gênero policial. Foto: Reprodução / Cinemateca Brasileira. 
Produção é um clássico do cinema nacional e, ainda hoje, causa estranhamento em quem está acostumado às produções hollywoodianas. 

Por Clayton Rucaly

Sabe quando sua mente está cauterizada por um tipo de produção cinematográfica e você não sabe absorver algo diferente? Conhece a sensação de ser apresentado a um trabalho inovador e suas ideias se confundirem a ponto de não encontrar conclusão alguma? Pois essas foram as minhas sensações após assistir ao filme Bang Bang (1971), da diretora Andrea Tonacci. A produção é uma história em preto em branco que satiriza uma perseguição policial. Nessa aventura, um homem neurastênico (síndrome em que o paciente está constantemente irritado) se vê envolvido amorosamente com uma bailarina espanhola em meio a uma gangue que o persegue.

O filme é um clássico do cinema nacional e foge de muitos padrões que estamos habituados a ver nas salas de exibição. Isso me causou estranhamento, mas as coisas pareceram se encaixar. A fotografia em preto e branco enfatiza o cenário, especialmente a bela arquitetura de Belo Horizonte. No rosto dos atores, o destaque é a expressão dos sentimentos intensos.

Para um consumidor de produções hollywoodianas como eu, o desconforto durante a projeção foi inevitável.  Precisei me esforçar para analisar o ambiente e não apenas consumir o título. É preciso pensar nos detalhes e se deixar perder. Se for ao cinema ver, por favor, evite cochilar como alguns indivíduos na sessão de exibição do festival Olhar de Cinema.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Do misticismo à modernidade - a reconstrução da Umbanda


Os desafios de uma religião cercada de misticismo e preconceitos que tem o desafio de se reconstruir na descoberta e aplicação de novos valores 

Por Julmara Mendes
Foto Daniel Rebello

O som das palmas e do canto dos hinos misturados ao forte batuque vão aumentando mais e mais, na medida em que as pessoas se aproximam do terreiro. Dentro da casa, construída em estilo bangalô, o som intenso dos atabaques se funde às batidas do coração de quem sente aquele medo peculiar ao assistir pela primeira vez um ritual de Umbanda. Talvez isso aconteça por terem uma imagem distorcida da religião, baseadas em preconceitos e misticismos. Vestidos de branco, os médiuns da casa cantam e dançam ao ritmo dos tambores no centro do terreiro, com suas guias coloridas no pescoço e uma espécie de cinto vermelho amarrado na cintura, de acordo com o seu Orixá (Deus africano, ligado a elementos da natureza). O ambiente é claro e paira no ar o cheiro de fumaça dos charutos usados como depuradores de energia, assim como o marafo (cachaça), utilizada para amortecer o médium, a fim de melhorar o domínio da entidade sobre ele. E é sob o comando do pai-de-santo (chefe do terreiro), e dos ávidos olhares da assistência (pessoas acomodadas nas cadeiras), que é dado início aos trabalhos da noite. 

A pedagoga Samia Dornelles, 24 anos, sempre que sente vontade de receber um axé (energia positiva), recorre aos passes (troca de energia entre o médium incorporado e a pessoa), os quais são acessíveis a qualquer um que vá ao Terreiro Pai Maneco. Frequentadora há cerca de sete anos, Samia deixou de ser assistente para tornar-se médium no terreiro. Além de buscar momentos de paz, ela acha que “é uma forma de encontrar o caminho para a caridade, a humildade e a benevolência - preceitos que são aprendidos com as religiões afro-brasileiras.” 

terça-feira, 28 de abril de 2015

No batuque de um Preto Velho



A vivência de uma gira de umbanda

Por Marcio Sakyo Poffo Taniguti 

A única árvore da esquina, do lado direto, indica sua idade. As raízes já começaram a quebrar a calçada. O portão de ferro de meio metro mostra que nunca foi trocado. O menor sinal do portão se abrindo chama a atenção do Negão, como é chamado. Um vira-lata preto, de porte médio, é que vem receber a todos que lá chegam. Do lado esquerdo há uma roseira cobrindo o cercado de arame, a qual separa o pequeno jardim do pátio. Pendurado no muro azul desbotado, há 15 vasos com pequenas plantas. No centro do jardim há uma fonte, onde algum dia havia água. Já a casa é marrom, com uma faixa bege claro, recém pintada, diferente do muro, que há tempos não recebe uma tinta.

Graziele Ferreira, 36 anos, atuante há dois anos no Guerreiros de Oxalá, uma das pessoas que trabalha lá e recebe a guia Maria Padilha, contou sobre a experiência que a levou a participar do terreiro. “Eu vim com uma amiga e o guia me falou que precisava trabalhar comigo e que este trabalho exigia meu retorno àquele terreiro mais duas vezes. Então daquele dia em diante eu comecei a pesquisar mais sobre a Umbanda e isso me deixou mais apaixonada pelo tema. Resolvi que era o momento de começar a seguir esta filosofia. Não que não existam outras religiões com seus sentidos, mas no caminho que eu percorri, este sentido eu encontrei na Umbanda. Então, para mim, a Umbanda é o meu caminho, na Umbanda tenho minha fé em Deus e trabalho meu desenvolvimento como ser divino”.

Biblioteca Pública do Paraná: A casa dos livros e dos imortais


Entre os milhares de livros e documentos do principal acervo literário do Paraná, a história e conhecimento também estão em quem frequenta o local

Por Natalia Bruckner

Um pedestal no centro da cidade, ao qual se chega por meio de uma escada ou duas rampas de mármore, onde frágeis e tortos deuses na terceira idade esperam, fumam ou simplesmente vislumbram a insignificância dos transeuntes, todos abaixo deles, andando depressa pela Cândido Lopes e carregando sacolinhas da Americanas. Os concierges do Hotel Bourbon, mortais. Subo depressa ao panteão e sou a mais jovem na ágora dos deuses velhinhos. Um deles fuma um cigarro quase no fim. Insiste em fumar a bituca. Seria ele Hefestos, encarnado numa figura idosa, semi-careca, torta e grande, de terno azul marinho desgastado tentando assoprar o fogo, referência de seu poder, num resto de cigarro amassado e inerte? O deus que tentava sem sucesso dar seu sopro de brasa ao resto do cigarro olhou para mim com seus olhos pesados e sua boca se mexeu sem soltar nenhum som. Jogou a bituca na escadaria de mármore que separava os velhos deuses dos inferiores mortais apressados e suas sacolinhas da Americanas, e entrou. Hefestos claudicava.

Do pedestal, a morada para onde as divindades se dirigem apoiadas em suas bengalas, ou os que ainda podem mancar sem o apoio delas, é um prédio modernista com mais de 8,5 mil metros quadrados, três andares mais um subsolo, inaugurado em 1954 por Bento Munhoz da Rocha Neto para ser a sede definitiva da Biblioteca Pública do Paraná. Mais de 304 mil títulos entre livros, jornais, materiais musicais e de vídeo, gibis, artigos, teses e registros históricos empilhados pelos andares do prédio. Destes títulos estão disponíveis mais de 683 mil exemplares em 13 sessões, tais como “Filosofia e Sociologia”, “Imprensa Paranaense”, “História, “Religião”, “Multimeios” e “Braile”. A sessão do braile é uma pequena salinha que fica no terceiro andar do prédio, com sinalização tátil na maçaneta e na plaquinha da porta estreita de madeira escura. Quem precisar usar a sala precisa solicitar um atendente. Ela fica o tempo todo trancada. De acordo com o levantamento do ano passado, a Biblioteca Pública do Paraná atende cerca de 3 mil usuários por dia, oito mil usuários inscritos por ano, realiza em média dois mil empréstimos de material e barra em média duas tentativas de roubo por dia.