sexta-feira, 24 de julho de 2015

Realidade e ficção


Fernando Severo deu seus primeiros passos na carreira influenciado pela mãe

Por Marcio Sakyo Poffo Taniguti


O relógio marcava 11h50. Pela porta da sala, era possível ver vários alunos passando no corredor. Pontualmente ao meio dia, o cineasta entra na sala em que estávamos. Um homem grisalho, estatura média, vestindo uma calça bege, uma camisa de malha verde clara por baixo de uma camiseta aberta na cor marrom e sapatos pretos. Carregava na mão esquerda duas caixas de DVDs, as quais colocou sobre a mesa. Puxou uma cadeira e sentou. Estava diante de mim o professor, cineasta e diretor do Museu de Imagem e Som do Paraná, Fernando Severo. 

Caçador ele não é, mas nasceu “numa cidadezinha do interior chamada Caçador, em Santa Catarina”. Veio para Curitiba estudar Engenharia Civil. “Eu até tentei fazer o curso, mas resolvi abandonar e optei por Publicidade e Propaganda”.

A Cinemateca influenciou bastante Fernando. Ainda durante a faculdade de Engenharia, o cineasta já frequentava diversos cursos livres, inclusive um curso prático de cinema Super 8, que “era uma bitola que existia na época, mais simples, de custos mais baixo”. Foi assim que viu o cinema na prática, passou a gostar ainda mais e resolveu seguir a carreira de cineasta. 

Dona Diva, a mãe, o influenciou no lado intelectual. Diva frequentemente ia ao cinema e Fernando sempre a acompanhava. Foi assim que ele começou a dar os primeiros passos para se tornar um cinéfilo. 

Dedicado. É assim que a amiga Renildes Carli que trabalha no Museu da Imagem e do Som, o define. “Ele é um amor de pessoa, de um coração enorme! Ele presta muita atenção no ser humano”.

“Corpos Celestes” é um filme do qual podemos extrair algumas informações sobre o próprio Fernando. “Tive interesse de leigo em astronomia e senti que as histórias davam margem a abordar vários temas que me são caros, ligados a questionamentos existenciais, incluindo elementos da vida interiorana paranaense, muito presentes na maior parte da minha infância”.

“O Mundo Perdido de Kozák” foi um de seus primeiros filmes. “Este ganhou 17 prêmios, inclusive o Festival de Gramado”. Nos anos 80 e 90 ele produziu “Os Desertos Dias”, além de dois filmes da série Panorama Histórico Brasileiro, do Instituto Itaú Cultural de São Paulo, entre outros. 

Filme marcante para o cineasta foi “Os visionários”. Seus olhos chegam a brilhar mais quando fala do filme. “Foi trabalhoso, viajei durante vários dias pelo interior”. O problema principal era gravar as cenas externas, pois sempre estavam sujeitas às condições climáticas. Fernando demonstra querer dar um sorriso e completa dizendo que “foi um trabalho harmonioso da equipe foi prazeroso fazer”

O mais trabalhoso “com certeza foi ‘Corpos Celestes’”. Filmado em seis semanas a fio, com várias locações diferentes, muitos equipamentos, a equipe grande e vários efeitos especiais. “Todo o filme tem o seu grau de dificuldade, uns mais, outros menos”, diz Fernando . 

Fernando é um cineasta simples, com uma fala suave, extremamente calmo. Atrás dos óculos um olhar sério. Fechado, difícil tirar um sorriso deste homem. Apesar da sobriedade, uma coisa é de se notar: falando da família, principalmente da mãe, sua fisionomia muda, se alegra.

O defeito, para a amiga Renildes, “é ser extremamente teimoso e um pouco ansioso para tratar de certas coisas”, além de ser um “cinéfilo exigente e rigoroso, especialmente na apreciação de trabalhos de colegas curta-metragistas”.

Um documentário é o atual trabalho de Fernando nos próximos meses. “Estou terminando um documentário sobre o Professor Newton da Costa, que é filósofo brasileiro e tem uma carreira internacional”. Fernando adiantou que o lançamento é para o final de julho. 

Inspiração não é uma coisa única, “mas a minha vida me leva a me interessar por certos temas e esses temas, quando possível, viram filmes”. Uma peça de teatro, uma notícia de jornal, uma conversa com alguém ou um outro filme que o impactou, sempre levam a algum tipo de inspiração em seu trabalho.

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