Por Liriane Kampf
Essa foi uma das questões discutidas
no debate sobre tiras, realizado na tarde de sábado, 27, no Paço da Liberdade.
O evento fez parte da programação da Convenção Internacional de Quadrinhos de
Curitiba, a Gibicon.
Com participação dos desenhistas Pryscila,
Benett, João Montanaro, Jean Galvão e Fernando Gonsales, e mediação do
jornalista Paulo Ramos, foram discutidas questões sobre as possibilidades da narrativa horizontal, os limites da
reprodução na internet, criação e desenvolvimento de traços e como a opinião
dos leitores influenciam na criação das tiras. Além das perguntas lançadas pelo
mediador, os cartunistas responderam, também, perguntas feitas pela plateia do
evento.
Uma das questões expostas
foi sobre o sustento a partir do trabalho com tiras. Os convidados foram unânimes:
não dá pra viver só da publicação em jornais. É necessário buscar outras fontes
de renda como agências de publicidade, revistas, ou trabalhos freelancers de
ilustração. “Não dá nem pra comprar iogurte”, brinca Pryscila, cuja principal
fonte de sustento provém da publicidade. João Montanaro, caçula da turma, com
apenas 16 anos, explica que se não morasse com os pais, também não teria como
se sustentar.
Paulo Ramos, professor da
Unifesp e da USP, comentou sobre a mudança do local de publicação das tiras.
Durante o século 20, o jornal foi o principal divulgador do trabalho dos
cartunistas. Já no século 21, houve a migração do jornal para a internet. João
explicou que um de seus famosos cartoons (aquele em que um menino aponta para
um pássaro no parque e diz: “Olha, mãe, um twitter!”) foi publicado primeiro no
jornal, mas só teve visibilidade quando foi para a internet. Todos concordam
que a internet dá muita visibilidade, assim como afirmam que o jornal dá mais
credibilidade ao trabalho do artista. Pryscila explicou que foi contratada para
um emprego fixo como cartunista porque um editor viu seu trabalho na internet.
“Tive oportunidade de viajar e expor no exterior porque viram meu trabalho no
meu blog”.
Quando a questão é lidar com
a opinião alheia sobre seu trabalho, Benett é taxativo: “Se uma tira minha faz
muito sucesso, mudo de tema. Se não faz sucesso, aí é que insisto”. Fernando
Gonsales, que já está no ramo dos quadrinhos há 27 anos, confessa que se sente
influenciado. “Claro que tenho personalidade. É preciso ter um mínimo dela. Mas
a opinião dos leitores faz grande diferença na hora de expor um tema ou ideia”.
E a pergunta que não quer
calar: DE ONDE VOCÊS TIRAM AS IDEIAS PARA AS TIRAS? João explica que não tem
fórmula, mas sim ingredientes. E Jean explica quais são: “Um bom repertório de
influências, uma boa base de conhecimentos gerais, ler muito, entre outras
coisas.” Já Benett é um pouco menos ortodoxo. “Uma vez sonhei que estava numa
exposição de tiras de outros autores. Mas as tiras, na verdade, eram minhas.
Quando acordei, lembrei todas as tiras, que eram uma porcaria. Só uma se
salvou. Ainda bem que não eram minhas.”
E sobre o retorno dos fãs
sobre seus trabalhos, as histórias variaram de emocionantes a inacreditáveis. Pryscila
contou que recebeu uma carta de uma mulher que sofria violência doméstica. Na
carta, a mulher contava que lia as tiras da Pryscila (que têm como personagem
uma boneca inflável que pensa e fala) todos os dias, as recortava e
colecionava, porque através daquelas tiras, ela sentia que podia responder ao
marido de uma maneira que não tinha coragem de fazer. “Foi a coisa mais
chocante e gratificante que já ouvi a respeito do meu trabalho”. A história
inacreditável fica por conta de Benett. “fiz uma tira sobre um menino que não
entendia metáforas. Nas tiras, ele era chamado de burro e tudo mais. Uns dias
depois uma mãe me liga dizendo que o filho dela tinha uma síndrome rara e que,
por conta desta síndrome, era incapaz de entender metáforas.”
Os convidados e a plateia
com cerca de 40 pessoas que assistiu ao debate riram e refletiram a respeito
das tiras, arte esta que encanta o mundo há mais de um século.
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