segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Maria Erótica e os bons tempos da editora Grafipar


Banner exibe uma das capas da revista “Maria Erótica e o Clamor do Sexo”.

 Por Julmara Mendes

A palestra “Maria Erótica e o Clamor do Sexo”, proferida por Gonçalo Junior, ocorreu às 18h do último sábado (27) na sala da Gibiteca, no Solar do Barão. Junior, jornalista e advogado, trabalhou em jornais e revistas, também foi editor do telejornal RedeTV News.

Apesar de contar com um modesto público, todos ouviram atentamente as revelações feitas por Junior - desconhecidas pela maior parte das pessoas ali presentes - sobre a extinta editora Grafipar, do empresário Faruk-el-Khatib – a primeira grande editora de quadrinhos a sair do eixo Rio–São Paulo.

Ao longo da palestra, Junior faz um breve relato dos últimos 30 anos, tentando resgatar a história dos quadrinhos no Brasil. “A revista ‘Peteca’ inaugurou a série de publicações eróticas da Grafipar, seguida por ‘Personal’ e ‘Eros’. O sucesso da editora foi tão grande que vários desenhistas, entusiasmados, se mudaram para Curitiba, como Bonini, Gustavo Machado, Watson, Flávio Colin, entre outros”, relembra.

Pessoas assistem a palestra de Gonçalo Junior.

Com ar nostálgico, Junior contou como escritores de renome também vieram para Curitiba, atraídos pelos altos salários: “Coincidentemente, ao chegarem à capital paranaense, os artistas alugaram as casas no bairro Três Marias, próximo ao clube de mesmo nome e a notícia de que havia uma vila só de quadrinhistas logo se espalhou”.

Na tentativa de passar uma imagem positiva, ressaltou a importância da história da Grafipar afirmando que jamais fez revista de sacanagem. Faruk-el-Khatib, empresário sério, sempre foi chamado para palestras e eventos, tamanha a sua importância no cenário nacional. Outro grande nome foi Cláudio Seto, responsável pelo setor de quadrinhos da Grafipar desde 1978 e que ressuscitou a personagem “Maria Erótica”. Considerado o maior artista de HQ dos últimos 30 anos, desde o surgimento da editora Edréu, em 1967, Seto morreu em 2008, vítima de derrame.

Em seu livro “Maria Erótica e o Clamor do Sexo”, Gonçalo Junior conta a história do surgimento do movimento de quadrinhos da Grafipar e de seu líder, Cláudio Seto, como um dos introdutores da linguagem do mangá no Brasil. Aborda assuntos polêmicos como o comunismo e a censura na ditadura militar - de 1964 a 1985 - período em que o poder no Brasil esteve nas mãos dos militares. A Revolução Sexual deflagrada pela pílula anticoncepcional e a contracultura do pós-guerra transformaram o sexo num problema de segurança nacional. 

Gonçalo Junior contou um pouco da história da editora Grafipar.
 “Após 21 anos de perseguição, repressão, censura, apreensões, queima de material, etc., a Grafipar fecha suas portas definitivamente tendo - por uma incrível coincidência - a mesma duração da ditadura, que também acaba em 1985”, conclui Junior.

Durante a palestra, a presença de Gustavo Machado se destacou dentre os presentes. Nascido no Rio de Janeiro, o artista iniciou como desenhista do Sítio do Pica-Pau Amarelo e, posteriormente, trabalhou na editora Abril com o “Zé Carioca”, “Os Trapalhões”, “Gugu”, “Mulan”, “Tarzan”, dentre outros, com destaque para “Didi Volta para O Futuro”.

“Pessoalmente, gosto muito do trabalho do Laerte, da nova geração. Mas, os eternos Ziraldo e Maurício de Souza, são muito bons, cada qual no seu ramo”, responde Machado sobre quem seriam os melhores desenhistas da atualidade.

Desenhista premiado, atualmente vive em Londrina e trabalha como ilustrador de material didático, apesar de ainda produzir desenhos - atividade que mais gosta. Quando perguntado sobre qual seria o seu melhor trabalho, destaca “Os Trapalhões – Didi Volta Para O Futuro”, da editora Abril, lançado em 1992, no Solar do Barão.

Gustavo Machado é um dos grandes nomes do cenário nacional.
 Fotos: Julmara Mendes

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