quinta-feira, 17 de julho de 2014

Arnaldo Silveira: teatro e vida que se misturam



“Aos 13 anos, eu passei no CEFET e no Colégio Estadual. Meu pai queria que eu fizesse CEFET. Eu queria Estadual. Na época, tinha um curso profissionalizante de teatro. Então eu menti para o meu pai de que tinha reprovado no CEFET e fui pro Estadual.”

Por Liriane Kampf

Foto: divulgação

“Olá, tudo bem?! Pode entrar por aqui, por favor.” Arnaldo Silveira anda com tranquilidade e domínio nas salas e no palco do teatro do Centro Cultural Wanda dos Santos Mallmann, em Pinhais, onde trabalha como diretor de teatro há 5 anos.

A fala é mansa e controlada. Os dedos brincam com duas canetinhas do tipo marca-texto em cores rosa e verde. Os olhos brilham quando ele volta no tempo para relembrar o primeiro contato com o teatro. O ano era 1976. Na Escola Municipal Prefeito Omar Sabbag, no bairro Cajuru, em Curitiba, uma professora tentava convencer um garoto de sete anos de que seria legal ser uma samambaia na peça de teatro. Ele não estava convencido. “Samambaias não falam!”, o menino argumentou. “Mas elas se movem. Você vai ser mover pra lá e pra cá”. A professora mostrou com os braços como ele deveria balançar durante a peça. Mesmo sem estar convencido, Arnaldo interpretou a samambaia. Mas tratou de, logo depois, criar, dirigir e atuar em sua própria peça. Chamou os amiguinhos e mostrou para a professora como queria que o teatro fosse.

Os anos passaram e o menino cresceu, mas a criatividade e a determinação continuam lá. “Ele é amigo, companheiro, extremamente criativo e dinâmico. Se precisamos fazer um musical com dinheiro, sai perfeito. Sem dinheiro, sai perfeito também.” Cinthia Bende, diretora musical que trabalha com Arnaldo há 4 anos, conta algumas histórias para exemplificar o caráter do amigo, que é “amigo no profissional e no pessoal”.

A postura de Arnaldo demonstra a organização que possui e que exige de si mesmo nos palcos. “Opa! Quem mandou vocês descerem do palco?!”. Em uma roupa confortável de moletom, Arnaldo não perde a autoridade junto ao grupo de atores do Centro Cultural. Os atores respondem que Cinthia permitiu. “Ok.” O ensaio segue. A peça ensaiada é uma adaptação do Mágico de Oz. Arnaldo mostra com orgulho os desenhos dos figurinos. “Ele cria e escolhe a cor e eu o tecido”, conta Cinthia.

A harmonia e a paixão pelo teatro é quase palpável. Mas ele revela que não tem o apoio da família. “Meu pai queria que todos os filhos seguissem a carreira dele.” Ele era ferroviário. Veio transferido com a família de Blumenau para Curitiba em 1971. Alguns irmãos não entraram na Rede Ferroviária. Outros entraram. Entre eles, Arnaldo. Aos 13 anos já trabalhava como metalúrgico aprendiz nas oficinas da Rede.

Quando perguntado sobre o que é o teatro hoje para ele, Arnaldo cita Confúcio. “Costumo dizer que não trabalho, porque quem faz o que gosta não precisa trabalhar um minuto sequer.” Não é escolha. Não é profissão. Sempre olhando nos olhos, Arnaldo conta que perdeu o pai cedo. Tinha 15 anos. “Pra mim foi mais fácil, porque já trabalhava, ganhava meu dinheiro, podia fazer minhas escolhas. Mas, mesmo assim, não tive apoio da família e até hoje não tenho.”

 Arnaldo é organizado. Arnaldo é desorganizado. “Se você olhar meu quarto, é uma bagunça”. Mas no palco, não há absolutamente nada que ele não saiba exatamente onde está ou onde deve estar. “Ator, figurino, agenda. Sei de tudo.” A mãe o chama de desmazelado.

Sobre a peça de teatro que mais o marcou, ele revela que é uma de sua autoria. Cabaret La Femme. É um texto que fala sobre diversidade. Conta a história de um soldado nazista que, por não concordar com o regime, foge e é acolhido por uma prostituta, que o esconde no Cabaret. Tem romance, política, perseguição, história. Tem também uma menção honrosa do Ministério da Cultura. Arnaldo não consegue esconder o orgulho. E nem deve.

“Água, uma pessoa especial e esperança”, é o que Arnaldo levaria para uma ilha deserta. Ele é romântico. Quer uma vida melhor para todo mundo. No dia anterior, pegou-se chorando ao ver pessoas que perderam tudo em enchentes. “Tantos sonhos se foram. Tantas conquistas.” Arnaldo, com sua fala mansa e controlada, se tornou uma pessoa pública por opção. Quer ser um formador de opiniões. E vê o teatro como sua própria vida.

Um comentário:

  1. Precisa de uma correção, onde diz que concursei CEFET e CEP Colégio Estadual do Paraná, leia-se 15 anos e não 13 ...
    Adorei o resultado final...
    Obrigado.

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