quinta-feira, 17 de julho de 2014

Ismail Scheffler: liberdade sem libertinagem


Diretor do Teatro da Universidade Tecnológica (TUT) busca explorar locais inesperados e dirigir a companhia de forma aberta

Por Amani Cruz

Foto: divulgação


Avenida Sete de Setembro, 17h30. “Olá Ismael, já cheguei no local que combinamos.” Logo depois estávamos conversando em sua sala no ambiente de trabalho. Uma estante com intermináveis livros de arte e a decoração composta de croquis com cenários de espetáculos davam ao ambiente um ar de criatividade.

Facilmente se percebe o sangue artístico que corre em suas veias, tanto no seu aspecto físico como na escolha das palavras que Ismael Scheffler profere. Com a experiência que lhe foi imposta pela mãe, o ator e diretor do Teatro da Universidade Tecnológica (TUT) dirige os ensaios de forma aberta.

Vestido de uma camisa branca mais larga de que seu tamanho, o diretor combina uma calça preta com finas riscas brancas e um chapéu branco com um detalhe preto. “O teatro é uma combinação de tons, veias, vozes e até, acredite, do silêncio. Você pode notar, o que um indivíduo carrega sempre agrega e acrescenta estilo ao ambiente em que todos os dias muda.”

Na sala do diretor, chegam alguns alunos que logo mais farão ensaios de uma peça que será encenada na Universidade. Em roda de bate papo, confessam algumas peculiaridades do diretor. “Primeiro trabalhamos o corpo, tonalidade da voz e então depois partimos para o papel dos personagens que é escolhido de forma aberta. Fazemos escolhas do personagem que achamos que mais se identifica conosco e depois o Ismael leva para casa para definir se vai ficar da maneira de como fizemos ou não”, explica com simpatia Manuella Gonçalves, que acompanha o trabalho de Ismael há um ano.

Como ele mesmo diz, o teatro nos desvirgina a cada espetáculo. Já tivemos peças dirigidas por ele em que, no fim de tudo, fomos fortemente surpreendidos por um debate que surgiu da própria plateia. É uma situação muito a cara dele nos proporcionar conflitos dentro do que estamos vivendo no palco. Me lembro que neste dia metade da plateia era contra o que apresentamos e a outra era a favor e o mis engraçado é que todos nós inclusive ele sentamos no palco e assistimos ao debate de forma que em nenhum momento nos intrometemos na opinião das pessoas.” O aluno Guilherme Soares, que está com o grupo há dois anos, faz questão de ressaltar o estilo do trabalho do diretor.

Neste momento, os olhos de Ismael brilham, bochichos na sala se formam. Para os alunos, é disso que Ismael gosta: de impactar e deixar a sensação falar mais alto, ao invés da racionalização sobre aquilo que se assistiu.

A crítica é algo que não é levado tanto a sério por ele. “Se o diretor não tiver uma cabeça boa e centrada, ele acaba mudando seu gênero e até como já vi em alguns casos, desistindo de seguir sua carreira”. O que vale para um diretor é expor sua arte, que também é individual e construída com o passar dos anos. “Uma crítica jornalística em espetáculo meu não acredito de ter visto alguma, até porque a mídia não explora tanto a cultura no teatro.”

O que caracteriza o trabalho como algo feito por Ismael é o ambiente em que se desenvolve. Suas escolhas revelam um resgate de sua infância, na qual assistia aos números de Páscoa, Natal e datas especiais dirigidos por sua mãe, que também construía roupas e cenários. Mas uma certa característica paternal não significa que, por ser este o meio de seu trabalho, ele tenha que “educar” seus alunos. “Jamais vou aguentar estrelismo e não saber se posicionar e se portar no palco. Não perco tempo. Não decorou e não amadureceu, eu desisto. Antes um trabalho bem feito do que algo que vai ser feito com muita simplicidade. E é isto que me absorve, atenção e interesse independente se é amador ou profissional.”

Apresentar peças em cenários inusitados é seu forte, pois, além de trazer os textos para mudanças em conjunto com os alunos, encenar em lugares diferentes deixa o elenco com mais liberdade e gera espaço para improvisos. “Onde mais de montar espetáculo é em locais que não foram pensados para o teatro. Claro que se me der um espaço tradicional eu faço, mas não é ali que me sentirei realizado.”

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