quinta-feira, 17 de julho de 2014

Silvia Monteiro: sócia, mulher, atriz, diretora, dramaturga


A diretora da Confraria Cênica concilia o trabalho nos palcos com o ofício de formar novos atores

Por Amanda Toledo

Foto: divulgação

“Ela nem sabe o que significa a palavra desistir”, conta  a atriz Ligia Honorio. Esta talvez seja uma das melhores definições dadas a Silvia Monteiro, atriz, autora, produtora, diretora e dramaturga. A multiprofissional busca compartilhar que tudo o que faz - dar aula de teatro na PUC, escrever de tudo um pouco, encenar, e produzir peças. Tudo que faz, faz com gosto, mas se deixa de gostar, então simplesmente para de fazer.

Uma mulher sem papas na língua. Não encara como dificuldades os obstáculos da vida pessoal e profissional, os chama de desafios. A única alteração perceptível de quando está nervosa é que a fala se torna pausada e mais baixa que o usual. A “pé vermelho”, nascida em Londrina, recorda com saudades suas memórias de infância e, com uma risada nostálgica, diz que estas lembranças estão meio longe do seu presente.

Uma mãe coruja e amorosa. Refere-se ao filho Pedro como uma “grande figura a quem amo e admiro profundamente”. Seu marido, Luiz Carlos Pazello, também é ator, produtor, diretor e parceiro na Confraria Cênica, sua companhia de teatro. Ele e a esposa, juntamente com o diretor atual do Lala Schneider, João Luiz Fiani, eram sócios no teatro, quando a atriz estreou um de seus espetáculos mais famosos, “A Mulher” (1998/99), sugerido pela própria Lala, sua professora, com o qual ganhou os prêmios Gralha Azul e Poty Lazzaroto de Melhor Atriz.

Para Pazello, Silvia é três mulheres diferentes: a amiga, a sócia e a mulher. Multitalentos e multi-interesses são os seus fortes e fracos. Envolve-se de corpo e alma em suas empreitadas profissionais, segundo o marido, às vezes, precisa ser lembrada que existe outra vida aí fora. “O nome da minha mulher é Sílvia Maria de Moraes Monteiro, eu gosto de chamar de Silvia MMM Sócia, construímos tudo juntos. Nossas vidas, alegrias, tristezas, casa, comida e roupa lavada”.

Com um olhar pensativo, a professora ri quando diz que já pensou e pensa em fazer mais que teatro. Seu gosto e talento para tantas áreas faz com que sua formação e mestrado em filosofia não sejam a única profissão e carreira que anseia. Estudou de tudo um pouco: psicologia, artes cênicas e a vida em todo seu contexto. Para ela, é uma função muito bonita encaminhar um jovem profissional que resolveu abraçar a mesma profissão que a sua. Desenvolve um carinho pelos seus alunos, pois, de saída, acaba tendo no teatro esse amor em comum.

No momento lê The play about the baby”, de Edward Albee, em virtude das questões trazidas pelos seus alunos. Uma das frases do autor neste ensaio é “se você não tem feridas, como você pode saber se você está vivo?”. A dramaturga absorve os questionamentos de seus alunos e os traz para sua realidade. Além disso, o que não sai da sua escrivaninha e de quem é fã de carteirinha é Harold Pinter, também ator, diretor, poeta, roteirista e dramaturgo, em quem busca inspiração sempre que pode.

Apaixonada por séries, como House of Cards e The Wire, dispensa filmes para assistir a Game of Thrones.  Embala-se ao som do Luiz Melodia e ultimamente escuta muito a Tulipa Ruiz. Essa versatilidade expande a sua personalidade. “Trabalhar com a Sílvia é sempre um grande aprendizado, pois ela é muito disciplinada, centrada no que faz”, comenta sua colega de trabalho Célia Ribeiro. A dramaturga tem planos para montar em breve uma peça com Nena Inoue, atriz, diretora teatral e referência na produção e difusão cultural.

A diretora acredita que andamos num tempo de indiferença, e com isso o teatro, em todas as suas formas, vai se esgueirando e sobrevivendo. Um sintoma desta resistência é volta do curso de teatro para a PUC, do qual faz parte desde 2010. O curso, que começou no final da década de 80, teve seu retorno conduzido por um longo processo pelo diretor Laercio Ruffa, idealizador e primeiro coordenador do curso, falecido em outubro do ano passado.

Encontrou suas influências não só em atores, mas em artistas de teatro. A lista é longa, e contempla de Curitiba a outros mil lugares: de Lala Schneider a Rosana Stavis, Edson Bueno, Marcelo Marchioro, José Teodoro, Luiz Otávio Burnier, Luiz Carlos Pazello, Carlos Simioni, Ceres Vittori...a lista vai longe. Em sua companhia, através destas inspirações, busca como tema principal, a solidão humana.

Amar teatro! Amar o encontro com o “outro”, essa coisa que é desprender-se de si e ousar encontrar o “diferente” de si. Silvia faz sua arte inspirada na vida. Quando escreve e quando dirige, inventa vidas que acabam de alguma maneira alimentando e reconstruindo o sentido e relações que estabelece em sua própria vida. Seus espetáculos sempre traduzem sua visão de mundo e das possibilidades que ela vê para os outros.

O que ela espera do futuro?
Não penso num futuro muito longe de mim. Quero construir a possibilidade de viver com arte e quietude até ser bem velhinha”. Após a morte? “ Mistério. Prefiro lidar com a vida”.

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