domingo, 20 de julho de 2014

Filme mineiro “A Vizinhança do Tigre” é bem recebido no Olhar de Cinema

 
Cena do filme "A Vizinhança do Tigre".

Por Julmara Mendes

A história contada por Afonso Uchoa no filme A Vizinhança do Tigre mostra como vivem cinco personagens. Juninho é o típico garoto esperto; Neguinho, o malandro ingênuo; Menor, aquele que se mira nos outros dois; e os mais velhos, Eldo e Adilson, que estão sempre por perto, na tentativa de dar algum apoio. 

Logo nas primeiras imagens, a impressão é a de tratar-se de mais uma produção feita em alguma favela do Rio de Janeiro. Mas, não. O lugar escolhido foi o bairro Nacional, região de favelas e moradias humildes da cidade de Contagem, em Minas Gerais. 

A apresentação de sábado no Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, 31 de maio, teve a participação do jovem produtor mineiro Thiago Macêdo Correia. Assim que terminou o filme, ele entrou na sala de exibição para um debate, acompanhado do cineasta Aly Muritiba. As pessoas permaneceram em seus lugares e tiveram a oportunidade de fazer perguntas diretamente ao responsável pela obra.

Correia conta que a aproximação do diretor do filme com os meninos da narrativa ocorreu pelo fato de Afonso ter nascido no mesmo bairro e ser o único a ter feito faculdade. Dessa intimidade com o lugar e com as pessoas que moram ali surgiu a vontade de querer mostrar a realidade vivida pelos moradores através do cinema e dar voz a essas pessoas. Cenas como a da carta lida nas primeiras cenas seriam retratos do que ocorreu com os garotos e com os amigos deles. A cena em que Eldo doa um skate ou toca gaita seria uma maneira de ajudar a melhorar um pouco aquela realidade.

Afonso fez contato com os meninos por considerá-los o retrato da periferia e por quatro anos filmou o dia a dia deles. Com uma produção simples, sem luzes e sem equipe de filmagem, o cineasta desenvolveu situações rotineiras. Filmou muito e ouviu diversas pessoas até ver a possibilidade de roteiro. E foi exatamente assim que o filme surgiu: dentro da própria filmagem, tendo personagens com seus nomes verdadeiros e com experiências particulares. 

Ao ser perguntado sobre como chegou ao projeto, o produtor explica que a produtora Filme de Plástico sempre filma em Contagem e, quando A Vizinhança do Tigre entrou em fase final, em 2013, iniciaram-se os primeiros contatos.  A situação de risco nas cenas que mostram os meninos fumando crack foi outra questão abordada pela plateia. Mas, Correia fala da importância de se mostrar a violência como algo normal para que o filme tivesse credibilidade. E, sobre o fato de quase não ter mulheres, o produtor explica que, originalmente, o filme partiu de um universo próprio, com liberdade limitada. A mãe do Menor, por exemplo, era muito ausente no filme, quase um fantasma. Porém, a D. Isaura - com um fio de esperança - apresentava uma força libertadora. 

A Vizinhança do Tigre - ganhador do prêmio de Melhor Filme pelo Júri da Crítica da 17° Mostra de Cinema de Tiradentes – tem a trilha sonora basicamente formada por rap. A típica batida cadenciada e a letra forte de “Eu queria mudar” mexem a tal ponto com o espectador que desperta a curiosidade da plateia. O produtor responde que a trilha sonora é de um grupo de Brasília, chamado Pacificadores. 

Na saída do cinema, Carlos Eduardo Seoane, 45, biólogo nascido em Niterói/RJ mas atualmente morando em Curitiba, relata que curtiu ver o filme. “Gostei da trilha sonora. Achei engraçado, espontâneo e tratou de um tema difícil com leveza. É impressionante a desenvoltura dos garotos.” 

Junto com Carlos Eduardo estava sua esposa Soraya Rédua Seoane, 39 anos. Fotógrafa profissional, ela elogia a fotografia do filme e a luz, mesmo sem muitos recursos. Formada em Sociologia, ela também comenta a falta de monitoramento dos garotos criados praticamente sem pais, sem família o que os leva a situações de perigo. “São crianças que estão brincando, mas que, a vida que levam passa a ser perigosa com o passar do tempo mudando de brincadeiras inocentes para o consumo de drogas."
 

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