terça-feira, 28 de abril de 2015

A saudade que motiva a volta aos bailes


O local no qual idosos não são vovôs


Por Jessica Dombrowski Netto


Às 16h das terças-feiras, o salão de festas do Clube Recreativo Dom Pedro II, que fica no bairro Rebouças, abre as portas para o passado. Nada mudou, apenas o horário de início e fim dos bailes que na juventude duravam uma madrugada inteira.

No grande salão existe uma pista retangular rodeada de mesas brancas com toalhas bordadas que comportam cerca de 60 casais rodopiando com ternos chiques e vestidos dos mais variados: floridos, de renda, brilhantes.

A decoração do palco consiste em uma cortina de led preta, fumaça e luzes coloridas. As bandas de Luiz Adega e Leo se revezam de 15 em 15 dias usando uma guitarra e um teclado, para tocar os clássicos do samba, bolero, vanerão e da valsa. A entrada custa R$14 e são feitas 250 reservas por baile. 

Algumas cenas chamam atenção na pista de dança. Um senhor no maior estilo Roberto Carlos, homenageando o corte de cabelo do ídolo, dança com uma senhora de cabelos loiros e vestido preto com passos ensaiados e sorrisos largos; uma mulher com um vestido amarelo esvoaçante se joga no colo de um homem de terno marrom; e homens mais jovens com roupas todas pretas trocam de senhoras durante o baile todo. 

Isto porque eles são dançarinos contratados por Maria das Dores Guimarães Santos, que há dois anos coordena a equipe. “Eu frequento bailes desde 2003. Gostava das festas gaúchas. Aqui no Dom Pedro recebo cerca de 130 pedidos por tarde. São R$6 para cada três músicas dançadas. Eu anoto tudo na minha agenda para não me perder. Tenho que prestar atenção em todos para trocar os pares”. Enquanto conta, chama um dos dançarinos para a mesa com uma senhora ruiva de cabelo médio e vestido em decote V, que já estava suada com tanto exercício. 

É uma espécie de grande família. Funcionários e clientes se conhecem de longa data, já que não tem como ir ao baile somente uma vez. 



Tridents e Halls


Carmen Lucia Cristofolini da Silva é a zeladora desde que as atividades se iniciaram. “Depois de um tempo eu resolvi abrir o guarda-volumes e cobrar R$2. Como eu tenho que cuidar dos pertences, montei essa mesa com doces. O que mais sai é trident e halls”. Ela já sabe o gosto de seus clientes assíduos e entrega o trident de canela ao Bira. “Sou pintor e ex-policial, minha filha. Quando eu venho aqui eu lembro da minha patroa. Não ficamos juntos devido à incompatibilidade de gênios. A minha segunda mulher desapareceu. Vou fumar meu cigarro”.

Carmen conhece bem os frequentadores e suas histórias. “Começa assim: eles vão ao médico, que manda eles fazer alguma atividade física e eles encontram o baile. As mulheres são piores do que menininhas de 15 anos. Elas vêm aqui pra paquerar e não é igual antigamente. Elas encontram os caras aqui e já vão para os finalmente”. Alfredo Erthal - Seu Alfredinho, de 85 anos - se junta à conversa. “Eu sou sócio remido do clube. Sempre gostei de dançar. Nasci no dia seis de agosto de 1930 e era funcionário público. Eu sempre fui malandro, tenho amizade com todo mundo, mas nunca faltei o respeito com nenhuma moça. A minha esposa não vem. Não gosto de sanduíche no baile. Quando conheci ela, disse que só ficaríamos juntos se eu não parasse de ir aos bailes. Eu danço até minhas pernas aguentar”. 

A ex-professora de alfabetização Sueli Maria Vera Portugal participou do primeiro baile da história do Clube em 2001. “É melhor do que ficar em casa. Todas as terças o meu filho me traz e depois me busca”. Usando um vestido de comprimento mimolet de bolinhas, brincos de pérolas e esmalte Impala Anos Dourados Cinturinha, ela conta sobre sua vida amorosa com muita naturalidade. “Tive um casamento que acabou não dando certo, mas encontrei uma pessoa com quem namorei por 3 anos. Nos conhecemos aqui e a paquera aconteceu por um ano. Começamos a namorar, mas ele era muito ciumento e tivemos problemas com os nossos filhos. Tudo bem. Eu vivo o hoje, cada dia pra mim é especial e eu tenho que aproveitar ao máximo. Tá vendo aquela primeira mesa ali no lado direito? Aquele homem que está sentado ali me viu um dia lá fora e disse que eu era interessante. Quando conversamos descobri que ele era meu primo. Não o via há 25 anos porque eu morei em Maringá”.

Há sete anos, Jussara Sirigatti vende semi-jóias no clube. O que mais sai são correntes, brincos e conselhos. “Eu sou tipo uma psicóloga pra elas. Quando elas brigam com o namorado vêm conversar comigo. Não importa se está sol ou chovendo, elas estão sempre aqui”.

Uma senhora digita rápido no seu smartphone alternando entre a conversa no Whatsapp e as notificações do Facebook. Mais tarde o que resta são as fotos nas redes sociais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário