quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Autor de Revolta! defende quadrinhos mais políticos

Exposição especial da HQ Revolta! durante a Gibicon.
Autor André Caliman falou com a equipe do Capital Cultura sobre suas influências e quadrinhos politizados durante a segunda edição da Gibicon

Por Giovanna Tortato

Quando colava as primeiras páginas de sua HQ nos muros de Curitiba, como forma de intervenção urbana, André Caliman não imaginava a repercussão que Revolta! tomaria quando pronta. Agora, mais de um ano depois e seis meses após o lançamento da obra completa em fevereiro deste ano com apoio de financiamento coletivo pelo site Catarse, a HQ teve papel de destaque na segunda edição da Gibicon – Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba. Para a obra, foram dedicadas uma exposição, uma apresentação do projeto Cena HQ e uma participação em mesas de debate. Além disso, o autor também esteve presente em todos os dias do evento autografando e conversando com os fãs e novos admiradores. Em entrevista ao Capital Cultura, Caliman contou um pouco mais dessa experiência.

Os seus quadrinhos estão em exibição em vários formatos nessa Gibicon, o que você achou da adaptação que o Cena HQ fez?

Como ele já foi encenado uma vez no Teatro da Caixa, eu havia assistido e achado muito bom. Fiquei muito feliz de terem decidido encenar aqui porque acho que pegou um novo público, uma galera que estava por aqui e ainda não conhecia, além de ser um pessoal que curte quadrinhos que é o que predomina aqui no evento. Tô muito feliz também com a exposição, porque a história tem tudo a ver com a cidade. Eu moro aqui, a história se passa aqui, então, colocar essas páginas, que antes eu tinha colado nas ruas da cidade - que foi o que eu fiz enquanto eu publicava no blog - e ver elas expostas aqui dentro do museu é muito legal.

O seu quadrinho é o “Revolta!” está sendo muito discutido desde os eventos de junho. Você foi ou está sendo muito procurado para falar sobre o tema devido a ter feito um manifesto artístico sobre o tema?

Quando surgiram as manifestações e eu ainda estava fazendo a HQ. Na época rolou uma badalação, umas perguntas nesse sentido. Porque com certeza, ali chegou um momento em que eu estava escrevendo sobre isso, o quadrinho estava refletindo muito o que estava acontecendo. Antes mesmo das manifestações, a HQ já lidava com o sentimento que estava rolando e, assim que ocorreram as manifestações, eu também coloquei muito disso na história. Então, eu acho que ler os quadrinhos é uma boa forma também de entender o aspecto daquele momento real.

O seu quadrinho é uma HQ política, ainda que não de pregação ou ideologia. Tem outros desse tipo ou deveria haver mais? Há essa tendência no mundo dos quadrinhos?

Caliman autografa sua HQ para o público. 
Existe uma história, uma tradição, do quadrinho como um veículo que representa e interpreta alguns fenômenos sociais, alguns dos fenômenos políticos dos países de onde esses quadrinhos são. A Argentina mesmo, que aqui no evento temos convidados como o Salvador Sanz e o Eduardo Risso, tem uma história interessante com quadrinhos que falam sobre a ditadura Argentina. Quadrinhos como El Eternauta, por exemplo,e também quadrinhos muito famosos que contam a história da vida do Che Guevara. Mas no Brasil também teve! O Brasil talvez até mais por meio dos quadrinhos de humor, o quadrinho de tiras. Mas se você pegar quadrinhos europeus, quadrinhos dos EUA, sempre existe algum desse tipo. O V de Vingança tem uma relação clara com o governo da Margareth Thatcher dos anos 1980. Então a HQ tem uma facilidade em tratar desses temas, porque também existe uma liberdade ali, você pode tratar desses temas ao mesmo tempo em que você tá causando uma reflexão, que você tá divertindo, que você tá entretendo. Acho quadrinhos um veículo perfeito pra tratar de assuntos sérios. 

E precisamos de mais obras com esse teor? 

Eu acho que sim, não que nunca tenha tido, sempre teve. Mas no momento tá faltando, poderia ter mais. Como a gente tem muitos títulos, existe muita possibilidade de se auto publicar, percebe-se que os autores acabam somente fazendo histórias muito intimistas, também muito interessantes e, às vezes, acabam ficando muito só nos seus próprios problemas e angústias. Os quadrinhos tem que se abrir, os autores tem que começar a enxergar mais o que tá acontecendo porque o quadrinho é um bom veículo de comunicação.

Pra encerrar: essa é a segunda edição da Gibicon. O que você achou da estrutura e do evento? Deu certo? Deve seguir em diante nesse formato e só aumentar em proporção?


Esse formato é novo, porque tivemos a número 0 e a número 1, que foram eventos que o intuito era acontecer na cidade inteira, em vários locais, então o pessoal ficava transitando pela cidade. Essa é a primeira edição que a gente colocou em um lugar só, o que eu acho bem melhor. O pessoal não precisa se deslocar, têm mais facilidade de ir de um evento pro outro, palestras, debates, porque tudo acontece em seguida, acabou um já tem outro começando. E ao mesmo tempo eu acho que juntar as pessoas, deixa-las mais próximas, mesmo que fique um pouco apertado, é legal porque faz com que as pessoas conversem mais e troquem mais informação.

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