segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Mulheres quadrinistas discutem a leitura e a produção de charges em jornais


Da esquerda para a direita: Cynthia B., Chiquinha, Sonia Luyten, Pryscila Vieira e Luli Penna. Foto: Manoela Tkatch.

Ilustradoras da seção Quadrinhas, do jornal Folha de S. Paulo, conversam com o público sobre quadrinhos e charges semanais

Por Manoela Tkatch

A segunda edição da Gibicon - Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba contou com uma mesa especial do projeto Quadrinhas, do jornal Folha de São Paulo, no sábado (06). No bate-papo, formado pelas autoras que publicam semanalmente no meio impresso, participaram as artistas Luli Penna, autora da tira Aqui na Esquina; Pryscila Vieira, criadora de Amely – Boneca Inflável; e as desenhistas Cynthia B. e Chiquinha, que não possuem um personagem fixo.

A mediação da conversa com o público foi realizada por Sonia Luyten, doutora em Ciências da Comunicação. Durante cerca de uma hora, as ilustradoras comentaram a liberdade que possuem no jornal, pois a tentativa de passar uma mensagem fica mais fácil quando poucos fatores impedem publicações de vários temas. “Eu traduzo essa liberdade na confiança que o editor tem em nós”, comenta Pryscila Vieira, que também já fez ilustrações para a Gazeta do Povo, do Paraná.

Cynthia B. Afirma que no começo do projeto Quadrinhas, havia um medo de toda essa liberdade. “Eu achava que tudo o que eu queria publicar, os editores não iriam aprovar.”

Polêmicas

O publico das tirinhas também foram assunto discutido durante a palestra. As autoras comentaram que algumas pessoas interpretam de maneira errada a mensagem da ilustração e acabam perdendo o real sentido da charge. Pryscila Vieira, que tem como principal personagem uma boneca inflável, chegou a discutir com mulheres do movimento feministas, que não concordavam com os temas abordados em seus quadrinhos. 

“A questão é que a pessoa não lê o que você responde. Há só aquela visão dela”, complementa Chiquinha, com relação à história da colega. “Na internet não temos o ‘cara-a-cara’ com a pessoa para poder ampliar o debate”, compara Cynthia B, sobre a mesma questão.

“Essa mordaça invisível está tomando cor”, diz Pryscila Vieira, descrevendo a cartilha do politicamente correto. As ilustradoras comentaram outros episódios, vividos por colegas de trabalho que já foram processados por textos ou ilustrações categorizadas como atos de racismo e/ou preconceito. Além disso, elas também comentaram que têm medo de publicar algo e serem entendidas como desrespeitosas.

“Quando você dá sua opinião em alguma publicação, está sujeito à pessoas pensam mais de dois segundos sobre o assunto e já publicam a opinião que quiser. Isso irrita e você tenta não brigar”, desabafa Cynthia B. Chiquinha explica que esses comentários negativos influenciam as pessoas que vão ler o quadrinho no jornal. “As pessoas não veem com olhos próprios a imagem. Apenas leem o comentário e publicam coisas negativas”.

O último assunto tratado na palestra foi o analfabetismo visual de pessoas que não consegue analisar a imagem como analisam o texto. A plateia concordou com a afirmação das autoras de que as escolas brasileiras não ensinam seus alunos a ler quadrinhos, o que os prejudica no futuro, quando precisarão ler quadrinhos e charges.

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